domingo, 24 de setembro de 2017

A Origem Hebraica de Matitiyahu

A Origem Hebraica de Matitiyahu Registros Históricos Diversos relatos históricos dos chamados “pais da igreja” nos revelam que Matitiyahu (Mateus) originalmente compôs as suas boas novas no hebraico. Esse texto era usado de forma praticamente unânime entre todas as seitas judaicas de seguidores do Mashiach. Abaixo, alguns dos principais relatos históricos: Irineu - século II: “De fato, Mateus, dentre os hebreus em seu próprio dialeto, também produziu um evangelho...” (Contra Heresias 3:1:1) Orígenes - século III: “... o primeiro [evangelho] foi escrito foi o segundo aquele que era um publicano, mas depois um emissário de Yeshua o Messias, Mateus, que o publicou para aqueles do Judaísmo que haviam crido, ordenado e reunido em letras hebraicas.” (Comentário de Mateus) Eusébio - século IV: “Mas sobre Mateus, ele [Papias] diz o seguinte: Mateus, portanto no dialeto hebraico organizou os oráculos, e a cada um interpretou segundo sua capacidade.” (História da Igreja 3:39:116) Jerônimo - século V: “Mateus, que também é chamado Levi, o emissário ex-publicano, primeiramente compôs em letras hebraicas o evangelho do Messias na Judéia, para aqueles que vieram a crer dentre a circuncisão. Quem posteriormente o traduziu para o grego não é certo o suficiente. Além disso, este texto hebraico ainda é mantido até hoje na biblioteca de Cesaréia que Panfílio o mártir estudiosamente reuniu. Recebi uma oportunidade dos Nazarenos de copiar este volume, que é usado em Beroea, cidade da Síria. Em tal evangelho, deve-se notar que, quer o evangelista, quer por sua própria pessoa quer pelo Senhor e Salvador, faz uso dos testemunhos das escrituras antigas, ele não segue a autoridade dos setenta tradutores, mas o hebraico.” (Sobre Homens Famosos 3) “O primeiro de todos é Mateus, um publicano denominado Levi, que publicou um evangelho na Judéia na língua hebraica, especialmente em razão daqueles que creram em Yeshua dentre os judeus.” (Prólogo dos Quatro Evangelhos) “Por fim Mateus, que escreveu o evangelho na língua hebraica...” (Epístola a Damásio 20) Matitiyahu também chamado de “Evangelho dos Hebreus” Alguns consideram, e de fato por muito tempo seguimos tal suposição, que o chamado “Evangelho dos Hebreus” é uma obra perdida, um dos evangelhos originalmente utilizado como canônico, especialmente nos meios das seitas judaicas seguidoras do Mashiach, e que havia se perdido. Outros consideram que Matitiyahu teria escrito uma obra em hebraico, e outra, distinta, no grego. Todavia, uma análise mais cuidadosa das evidências históricas, podemos perceber que na realidade se trata de uma única obra. Vejamos algumas evidências: Epifânio - século IV: “E eles [seitas judaicas] próprios também aceitam o evangelho segundo Mateus... Mas eles o chamam 'segundo os Hebreus'.” (Panarion 30:3) Jerônimo - século V: “No evangelho hebraico segundo Mateus está assim: Nosso pão para amanhã nos dá hoje, isto é, o pão que Tu nos darás no Teu Reino nos dá hoje.” (Comentário do Sl. 135) Compare com: “No evangelho que é chamado segundo os Hebreus, eu encontrei ao invés do pão supersubstancial, eu encontrei mahar (מהר ), que significa “de amanhã”, de modo que o sentido seria: Nosso pão de amanhã, isto é, o [pão] futuro dá nos hoje.” (Comentário sobre Mt. 6:11) Podemos perceber que Jerônimo cita o mesmo texto. Rabanus Maurus - século IX: “Deve-se notar que no evangelho segundo os Hebreus que os Nazarenos e os Ebionitas usam, e que é chamado por muitos de o evangelho autêntico de Mateus...” Irineu – século II: Frequentemente, as citações do evangelho dos Hebreus, como a que vimos acima, identifica os Ebionitas como um grupo que utilizava tal obra. Irineu, no século II, todavia, nos afirma que os Ebionitas utilizam apenas o evangelho de Mateus: “[Os Ebionitas], contudo, utilizam apenas o evangelho que é segundo Mateus…” (Contra Heresias 1:26:2) Mais uma evidência de que se tratava do mesmo texto. Matitiyahu também chamado de “Evangelho dos Nazarenos” Identificado nas citações históricas como “o evangelho que os Nazarenos usam”, ou ainda simplesmente como o “Evangelho dos Nazarenos”, alguns acadêmicos o classificam como sendo uma obra à parte de Matitiyahu e do “Evangelho dos Hebreus”. Outros identificam o “Evangelho dos Nazarenos” como sendo idêntico ao “Evangelho dos Hebreus”, porém diferente de Matitiyahu. Todavia, novamente os relatos históricos apontam que se trata de uma outra forma de se referir à mesma obra. Vejamos algumas comprovações históricas: Jerônimo – século V: “No evangelho que os Nazarenos e os Ebionitas usam, que recentemente traduzimos do hebraico para o grego, e que é chamado por muitos de o autêntico de Mateus...” (Comentário sobre Mt. 12:13) “E [os Nazarenos] têm o evangelho segundo Mateus bem completo no hebraico. Pois dentre eles ainda é claramente preservado, assim como foi escrito desde o princípio em letras hebraicas.” (Panarion 29:9) “No evangelho segundo os Hebreus, que de fato é escrito na língua Caldéia e Siríaca, mas em letras hebraicas, os quais os Nazarenos usam até hoje, segundo os emissários, ou como a maioria se refere a ele: segundo Mateus, o qual também é preservado na biblioteca de Cesaréia...” (Contra os Pelagianos 3:2) Hebraico ou Aramaico? A citação acima de Jerônimo leva muitos a questionarem a língua original do texto de Matitiyahu. Teria Matitiyahu escrito em hebraico ou no aramaico? Alguns chegam a utilizar esta citação de Jerônimo para defender uma primazia aramaica. Todavia, se analisarmos os demais relatos dos chamados “pais da igreja”, vemos que, além de Jerônimo, a única citação ambígua é a de Orígenes, que diz que o texto foi composto “em letras hebraicas” (o que alguns poderiam considerar como sendo somente o alfabeto hebraico.) Os demais “pais da igreja”, incluindo Irineu, que é dono da citação mais antiga de todas, afirmam categoricamente que Matitiyahu escreveu não apenas no alfabeto hebraico, mas na língua hebraica. O próprio Jerônimo afirma tal coisa em sua epístola a Damásio. Portanto, está muito claro que Matitiyahu foi originalmente composto no hebraico. Porém, a citação de Jerônimo tem grande valor. Ela significa que, bem cedo na história, o texto foi traduzido para o aramaico. Até porque a tradução do hebraico para o aramaico é relativamente simples, como traduzir um texto no espanhol para o português, dada a semelhança entre as línguas. Isso explicaria o porquê do texto aramaico de Matitiyahu (Siríaco Antigo e Peshitta) frequentemente apresentarem variantes textuais que não encontram eco em qualquer dos manuscritos gregos de que se tem notícia. Porém, devemos ter muito claramente em questão o fato de que Matitiyahu foi originalmente escrito no hebraico. O Texto Nazareno x o Texto Ebionita Um ponto fundamental que devemos considerar é o de que o texto de Matitiyahu no hebraico era diferente entre Nazarenos e Ebionitas. Epifânio faz clara distinção entre ambos, em sua obra Panarion, onde comenta acerca de ambas as seitas judaicas: “E [os Nazarenos] têm o evangelho segundo Mateus bem completo no hebraico. Pois dentre eles ainda é claramente preservado, assim como foi escrito desde o princípio em letras hebraicas.” (Panarion 29:9) “No evangelho dentre eles chamado segundo Mateus, mas não totalmente completo, mas ilegítimo e adulterado...” (Panarion 30:13) Repare que, segundo Epifânio, o texto hebraico de Matitiyahu dos Nazarenos era bem preservado em sua originalidade. Já o texto dos Ebionitas havia sofrido alterações. Alguém poderia questionar tal afirmação de Epifânio, chamando-a de tendenciosa. Todavia, Epifânio na obra Panarion nos dá diversos exemplos de textos adulterados pelos Ebionitas. Não é escopo deste estudo introdutório aprofundar a questão do texto ebionita. Assim sendo, nos ateremos a resumir o relato de Epifânio: O evangelho dos Ebionitas mostra Yeshua como um vegetariano radical. Ele não teria cumprido os sacrifícios de expiação pelos pecados, e sim abolido tais sacrifícios devido ao derramamento de sangue de animais ser supostamente abominável a Elohim. O texto Ebionita, além de incompatível com a realidade judaica da época, faz questão de se opor frontalmente à Torá, e por isso pode ser descartado. Maiores informações sobre o texto ebionita podem ser obtidos na obra Panarion, capítulos 29 a 31. Variantes Textuais: Como Explicar? Uma questão que muitos apresentam, e com toda razão, é: Como podemos explicar tanta variação textual do texto hebraico, quer em seus manuscritos remanescentes, quer nas citações dos “pais da igreja”, para com o texto grego? Afinal, em alguns trechos, há divergências radicais entre os relatos. Depois de estudar profundamente a questão, apresento algumas hipóteses que devem ser consideradas: a) Incômodo Teológico: A incompreensão e/ou rejeição do Judaísmo certamente gerou incômodos teológicos, cuja resolução mais simples foi a omissão dos relatos. Talvez o exemplo mais claro e importante disso seja a forte ação da Ruach HaKodesh (Espírito Santo) enquanto Mãe da Elohut (“natureza enquanto Elohim”) de Yeshua, ao passo que Miriyam é apresentada apenas como mãe da natureza humana de Yeshua. A incompreensão do aspecto feminino de YHWH, a Ruach HaKodesh que, no hebraico, é termo feminino e associado ao chamado “Pilar da Mãe” do Ein Sof (Aquele que é Infinito) levou à completa eliminação dos trechos em questão. Até hoje vemos o resquício de tal incompreensão no meio cristão, que considera “o Espírito Santo” como um elemento masculino, ignorando inclusive que em Bereshit (Gênesis) 1:27, o ser humano é criado macho e fêmea à semelhança de YHWH. b) Incômodo Político: A marcante atuação de Ya’akov HaTsadik (Tiago, o Justo) nos acontecimentos que precederam e sucederam a morte de Yeshua também são omitidos. A justificativa mais provável de tal omissão é a posterior alegação romana (totalmente equivocada) de que Shimon Kefah (Simão Pedro) seria o líder do movimento de Yeshua – quando na realidade, o livro de Ma’assei haSh’lichim (Atos dos Emissários), e os relatos históricos, nos revelam que tal liderança pertencia de fato a Ya’akov. c) Glosa de Copista/Tradução: Não se pode ignorar a influência das glosas de copistas e tradutores. É comum que alguns pensem em uma teoria conspiratória que resultou em tais glosas. Todavia, deve-se levar em conta que os textos eram escritos de forma cursiva, com caligrafia que nem sempre favorecia, nem sempre em linhas tão retas ou com tinta de boa qualidade. Some-se a isso a ausência de pontuação e de vogais no texto hebraico e aramaico, e é fácil compreender que as chances de glosa não são nada pequenas. Copistas suprimiam textos acidentalmente, emendavam trechos de grafia semelhante, trocavam ou não compreendiam letras, e isso não era algo raro. Como também não eram raros os erros por parte dos tradutores, a partir de textos igualmente difíceis. Isso explica diversas variantes textuais, sem necessariamente contribuir para validar qualquer teoria conspiratória. d) Harmonização com outros Evangelhos: Vemos com relativa frequência que algumas variantes textuais sofreram a influência de outros evangelhos. Podemos citar especialmente o caso de Lucas. Marcus vem em segundo lugar, e Yochanan (João) também influenciou determinados trechos. O trecho onde isto é mais evidente é na parábola dos kikarim – conhecida no grego como parábola dos “talentos” – cujo original hebraico era muito diferente. O texto foi claramente modificado para harmonizar com a parábola dos “manim” – conhecida no grego como parábola das “minas” – embora fossem parábolas diferentes. Temos que ter com muita clareza em mente que, apesar das semelhanças, Matitiyahu e Lucas não são idênticos, e o motivo reside justamente no nível dos detalhes. Isso não é sem precedentes nas Escrituras onde, por exemplo, trechos da mesma narrativa são expostos em Shemot (Êxodo) e Devarim (Deuteronômio), ou de forma mais evidente em Melachim (Reis) e Divrei HaYamim (Crônicas). Os diferentes escritores nos possibilitam ter uma visão mais ampla do relato. Todavia, alguns consideravam as diferenças – e repare que aqui afirmo “diferenças” e não “divergências” pois não há contradições entre eles – como fonte de incômodo. Isso explica a tentativa de harmonizar o texto de Matitiyahu. Especialmente porque Matitiyahu, como vimos, era utilizado quase que de forma unânime pelos seguidores de Yeshua. e) Deslocamento Este é talvez o mais curioso dos motivos pelos quais há divergências textuais. Alguns trechos da narrativa de Matitiyahu no hebraico, talvez como forma de tentar harmonizar a cronologia com Marcus e/ou Lucas, foram removidas de seu local original, e postas em outros pontos do chamado Novo Testamento. Existem três narrativas que são mencionadas pelos chamados “pais da igreja” como pertencentes a Matitiyahu no hebraico, mas que atualmente encontramos em outros pontos. São elas: A Mulher Adúltera: A controvérsia sobre o texto de Yochanan (João) 7-8 sobre a mulher adúltera tem uma razão de ser. O texto não é encontrado nos manuscritos mais antigos, e, em alguns manuscritos, aparece como parte do evangelho de Lucas. Eusébio (século IV), em “História da Igreja 3:39:1”, relata que a narrativa fazia parte de Matitiyahu originalmente. A Lavagem dos Pés: O texto que se encontra na narrativa de Yochanan (João) sobre o Pessach é citado por um códice do século XIV (A História da Paixão do Senhor) como pertencente, originalmente, a Matitiyahu. A Escolha de Matitiyahu (Matatias): A história da escolha do substituto de Yehudá (Judas) é narrada em Atos, mas é citada por Dídimo, o cego (século IV) em seu comentário sobre o Sl. 34:1 como pertencente, originalmente, a Matitiyahu. Embora o primeiro caso seja mais evidente, nos dois últimos não sabemos se o relato de Yochanan (João) e de Lucas são na realidade trechos extraídos de Matitiyahu, ou se são simplesmente semelhantes ao mesmo. Assim sendo, é mais conveniente preservar os textos na posição tradicional, visto que o que importa é a mensagem, e não a posição onde se encontram nas Escrituras. Conclusão Deste pequeno estudo, podemos concluir que Matitiyahu foi escrito em hebraico. O texto foi traduzido para o aramaico e para o grego. O texto hebraico era também conhecido como “Evangelho dos Hebreus”, “Evangelho dos Emissários” ou ainda “Evangelho dos Nazarenos”. Aqui cabe uma observação que a edição de 1551 do manuscrito de DuTillet traz o título de “Torat HaMashiach” (A Torá do Messias). O texto também era usado por outras seitas judaicas, tal como os Ebionitas, todavia apresentando alterações textuais. O texto hebraico original, conforme atestado pelos chamados “pais da igreja” também possuía algumas importantes divergências textuais para com o texto tal qual tradicionalmente se conhece a partir do grego.

Um comentário:

O que é Iniquidade - Anomia? O fardo dos fariseus era a “Lei de Elohim”!?

O Eterno sabia _ através da Sua Onisciência, Onipresença e Onipotência _ que o inimigo de nossas almas se utilizaria de grupos que viriam ap...