domingo, 24 de setembro de 2017

A Verdadeira Origem da Kipá

A Verdadeira Origem da Kipá I - Introdução ! A kipá, ou solidéu como é conhecida popularmente entre os não-judeus, é hoje praticamente uma unanimidade no meio judaico. Poucos, todavia, conhecem sua origem, ou já se indagaram se o seu uso reflete as práticas do Judaísmo bíblico, ou dos israelitas da antiguidade. " Os que defendem o uso da kipá entendem que o cobrir a cabeça indica temor dos céus, e que essa prática teria embasamento nas Escrituras. " Este estudo se propõe a investigar essas alegações, buscando a verdadeira origem histórica do solidéu, e verificando o que dizem as Escrituras a esse respeito. II - A Origem Histórica do Solidéu " Mesmo que objetivo desta seção seja uma investigação histórica, a Torá nos dá um ponto de partida muito interessante ao afirmar: “Não cortareis o cabelo em redondo, nem danificareis as extremidades da barba pelos mortos; não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós. Eu sou YHWH.” (Vayicrá/Levítico 19:27-28) " Vale ressaltar ao leitor que o hebraico apresenta um texto corrido, e que a pontuação e a divisão de versículos é algo introduzido pelas traduções. " O texto acima fala de alguns rituais de luto que são proibidos pela Torá. Dentre eles, destaca-se o ritual da tonsura, um ritual de raspagem dos cabelos, deixando uma superfície calva no topo da cabeça, de modo que os cabelos crescessem apenas como um halo redondo em torno da mesma. " Esse tipo de ritual de luto era comum entre os antigos sumérios, e por esta razão, os israelitas tiveram bastante contato com ele nos tempos antigos. Sobre isso, Brian B. Schmidt, professor de bíblia hebraica e cultura semita da Universidade de Michigan, afirma: ! “Laceração e tonsura são atestados como rituais de luto dentre diversos povos do Oriente Médio. Alster nota que [os textos da]~Descida de Inanna ao Mundo dos Mortos (versões suméria e acadiana), Gilgamesh, Enkidu e o Mundo dos Mortos (versões suméria e acadiana) e o Épico de Gilgamesh (acadiano) contêm reflexões mitológicas dos rituais de luto envolvendo autolacerações e tonsura. Rowley [também] citou referências na literatura grega clássica.” (Israel's Beneficient Dead, pg. 17 1 " Por hora, será deixada de lado a referência aos gregos (que será retomada mais adiante), e o foco será dado ao hábito que aparece na antiga região da Mesopotâmia. A grande questão que fica é: Por que a Torá proibiria esse rito de luto em particular? É importante ressaltar que a Torá não se ocupava de condenar qualquer tipo de costume local, mas sim principalmente aqueles que de alguma forma estavam ligados à idolatria. II.1 - A Adoração a Shamash " Na região da antiga Bavel (Babilônia), a tonsura não era apenas um rito de luto, mas também um símbolo da devoção a Shamash, o deus-sol do antigo panteão babilônio. " O acadêmico James Hastings cita a tonsura como uma forma de rito iniciático de dedicação dos sacerdócio aos deuses babilônios: "As placas representam o rei Ur-Nina (Louvre) como um portador de cesto, e também assentado, mostram-no na companhia de seus oito filhos, os quais, de pé perante eles, curvam suas cabeças em sinal de respeito. Com a exceção do primeiro, todos têm suas cabeças raspadas, e é possível que o cabelo do mais velho tenha um tipo de tonsura. O raspar a cabeça é considerado sinal de ranking sacerdotal, e essas placas parecem provar que até meras crianças eram iniciadas..." (Encyclopedia of Religion and Ethics, parte 6) " Acima, gravura da tábua babilônia de Ur-Lina, em exposição no museu do Louvre. Conforme Hastings atesta, pode-se perceber a tonsura no filho mais velho do rei. Sobre a tonsura sacerdotal, Hastings continua: " "Existem muitas referências à consagração sacerdotal, mas nada é tão conhecido como as marcas distintas que os sacerdotes portavam. As impressões de selo [N. do T. as tábuas babilônias eram impressas com selos cilíndricos em argila] mostram que eles frequentemente se raspavam, e parece certo que isso era parte do rito de consagração, que era realizado pelo shui (Sum.) ou gallabu (Sem.) Seu trabalho era provavelmente realizado perante a estátua da divindade a quem o neófito era dedicado. A isto aparentemente se sucedia o dar a tiara sacerdotal." (ibid, parte 19) " É importante que o leitor compreenda que o significado do termo “tiara” aqui usado é um “ornamento de cabeça.” Mas, como era o ornamento de cabeça dos iniciados no sacerdócio babilônio, dentre os quais se destacava o sacerdócio de Shamash? " Diversas tábuas babilônias demonstram que ornamento de cabeça era usado como símbolo de Shamash. A mais evidente dessas tábuas (acima) é uma tábua do século 9 AC, que mostra o próprio deus-sol Shamash e seus súditos. Pode-se observar que esse ornamento de Shamash tinha uma forma semelhante a uma cuia, e cobria a cabeça exatamente onde a tonsura era realizada. Abaixo, algumas outras tábuas: " Esse tipo de ornamento dos sacerdotes de Shamash também aparece em outras imagens, ornando tanto homens, quanto mulheres, e até mesmo outras divindades como Ishtar e Tamuz. Abaixo, algumas tábuas da coleção de Ashurbanipal, em exposição no Museu Britânico. São tábuas do século 7 AC, embora especulese que sua origem possa estar por volta do século 17 AC. " Embora não seja a única forma de cobertura de cabeça a figurar nas tábuas babilônias, o disco-solar de Shamash é sem sombra de dúvidas o mai s predominante. Até mesmo outras divindades aparecem trajando-o, demonstrando a grande importância que os babilônios davam ao sol. Isso pode ser visto em imagens como a do casamento de Ishtar e Tamuz, que é representado na gravura arqueológica ao lado. II.2 - De Shamash a Mitra " Ao longo dos séculos, o panteão e a teologia babilônia evoluíram, embora a devoção ao sol permanecesse uma de suas marcas mais identificáveis. " Já próximo aos tempos de Yeshua, a religião dos Mistérios de Mitra (cuja mitologia foi incorporada ao Zoroastrismo) era bastante popular na Babilônia, e com o passar do tempo foi ganhando cada vez mais força. Mitra era uma divindade solar, que acabou incorporando boa parte da devoção e das características do antigo deus Shamash. " Ao lado, pode-se ver a predominância de Mitra em um mural do século 3 DC, o mural da investidura do imperador Ardashir. À esquerda, pode-se ver Mitra com seus inconfundíveis raios solares, e o seu solidéu (um dos dois chapéus utilizados no Mitraismo.) " A religião dos Mistérios de Mitra tornouse bastante popular também em outras culturas, tendo influenciado não apenas gregos, como também romanos. " Os seguidores de Mitra tinham como marca distinta os seus dois tipos de cobertura de cabeça: o chapéu fírgio, e o solidéu. " Sobre isso, em sua obra acerca das origens e do significado do solidéu, o reverendo Antonio Hernandes nos relata: ! "… a igreja primitiva roubou muitos dos hábitos, vestimentas e costumes mitraístas. Todos os mitraístas usavam um solidéu especial. …todo mitraista que cometes pecado era condenado, entre outras coisas, a usar um solidéu de pele de porco! Seu profeta, Mitra, usava um solidéu e um chapéu pontudo supostamente de design fírgio, e era ele quem originalmente mostrou todos os atributos do Cristo [romano]. Mas diferentemente do Cristo, Mitra emergiu de uma rocha, completamente nu e belo, usando seu solidéu orgulhosamente." (My Kingdom for a Crown: An Around-the-World History of the Skullcap and its Modern Socio-Political Significance) " Até hoje, os zoroastristas (também conhecidos como parsis), utilizam a mesma cobertura de cabeça dos mistérios mitraístas, como pode ser visto em algumas fotos abaixo: www.torahviva.org 4 II.3 - Da Babilônia à Grécia " O culto ao deus-sol também também influenciou a cultura grega, provavelmente trazido pelos fenícios, como visto na figura abaixo representando a história de Cadmos, o fenício que supostamente teria fundado a Grécia. O painel, do museu do Louvre, apresenta-o trajando solidéu. " Semelhantemente, os deuses gregos também são frequentemente representados usando solidéu, como abaixo nas esculturas gregas antigas de Oceanus e Zeus: " Abaixo, uma escultura de um dos Dioscuri, os filhos gêmeos de Zeus, em uma praça em Turim, na Itália, e uma antiga gravura mostrando ambos os Dioscuri, ambos usando solidéu. www.torahviva.org 5 " Até hoje, na Albânia, em região do antigo império grego, pode-se ver o costume remanescente. Ao lado, um senhor albanês trajando o seu solidéu. " Como já foi apresentado em diversos materiais, e é amplamente de domínio público, a Igreja Católica nos primeiros séculos de sua existência incorporou uma série de práticas do culto a Mitra, que havia ganho bastante popularidade no império romano. III.4 - Roma e a Tonsura Solar " Parte desse rito incluía o antigo hábito das tonsuras, exatamente a mesma prática proibida pela Torá, e que era realizada na Babilônia em conexão com a adoração ao deus-sol. " Sobre o rito da tonsura, a Enciclopédia Católica afirma: “Um ritual sagrado instituído pela Igreja através do qual um cristão batizado e crismado é recebido na ordem clériga através da raspagem de seu cabelo e do investimento da túnica. A pessoa assim tonsurada torna-se participante dos privilégios e obrigações comuns do estado clérigo e está preparada para a recepção de ordens.” (Tonsure) " A exemplo do que acontecia na antiga Babilônia, a tonsura romana era coberta por um solidéu. Sobre esse hábito, Hernandez escreve: "Tonsura - O ato de raspar a cabeça para representar o tomar votos ou ordens religiosas. Praticada tanto pelos pagãos, quanto por budistas e cristãos, a tonsura precisava de proteção - uma das principais razões pelas quais o solidéu passou a ser usado pelos clérigos religiosos em todo o mundo." (My Kingdom for a Crown: An Around-the- World History of the Skullcap and its Modern Socio-Political Significance) " Embora a tonsura tenha saído de moda na Igreja Católica, o uso do solidéu permanece. Curiosamente, o termo “solidéu” deriva de “soli deo.” " Hoje em dia, o Vaticano jura que “soli deu” significa “somente deus.” Todavia, o termo “soli deo” no latim também pode significar “deus sol.” Apesar dessa aparente ambiguidade, não há dúvidas quanto à origem real do termo, por dois motivos. " O primeiro, porque, como visto, a prática do solidéu começou a se popularizar através da religião dos mistérios de Mitra, uma divindade solar. " O segundo porque, contrariando as explicações atuais do Vaticano, o famoso mural de Mitra (vide ao lado) no Vaticano traz a inscrição “Soli Invicto Deo” (deus sol invencível). Portanto, pode-se perceber sem qualquer sombra de dúvida que solidéu, ou “soli deo”, significa literalmente “deus sol.” III - Representações dos Antigos Israelitas ! Nos tempos bíblicos, os israelitas comuns não tinham por hábito usarem coberturas de cabeça. Abaixo e ao lado, a l g uma s e v i d ê n c i a s a r q u e o l ó g i c a s comprovam isso. " A primeira delas, um mural egípcio de cerca do século 15 AC, mostra os hebreus cativos trajando tsitsiyot (franjas). Não há qualquer cobertura de cabeça. " " O mesmo pode-se observar do mural de Senaqueribe, ao lado, de cerca do século 7 AC, que ilustra os israelitas sendo levados para o cativeiro assírio. As tábuas possuem alguns detalhes próximos aos pés que podem representar tsitsityot (franjas), mas novamente não há qualquer cobertura de cabeça. " E, por fim, há ainda uma imagem em que Yehu, rei de Judá, se prostrando perante Shelmanaser III, rei da Babilônia, de cerca do século 9 AC. " " Esse mural, de origem babilônia, é curioso pois representa Yehu com uma cobertura de cabeça. Todavia, seu acompanhante ao lado aparece sem tal cobertura, o que reforça o indício de que nos tempos bíblicos, o costume de cobrir a cabeça era apenas social. www.torahviva.org 7 " Mais adiante, serão abordados também os murais da sinagoga de Dura- Europos, que indicam que o costume também não era comum mesmo no século 3 DC. IV - A Bíblia e o Cobrir a Cabeça ! Abaixo, apresenta-se uma lista dos termos bíblicos usados para cobertura de cabeça. Será feita uma análise cuidadosa da etimologia e do contexto de uso de cada termo: IV.1 - Mitsnefet ! " O termo vem da raíz "tsanaf", que significa "enrolar." Literalmente, um turbante. Esse termo aparece nas Escrituras de forma exclusiva ao turbante do cohen hagadol (sumo-sacerdote), que era feito de linho. Aparece frequentemente como “mitra” nas traduções para o português, embora “turbante” seja a leitura mais apropriada: “Prenda-o na parte da frente do turbante [mitsnefet] com um cordão azul.” (Shemot/Êxodo 28:37) Outras passagens onde o termo aparece: • Ex. 28:4,37,39; 29:6; 39:28,31 • Lv. 8:9; 16:4; • Ez. 21:26; IV.2 - Tsanif " Esse termo vem da mesma raíz de mitsnefet. Literalmente, algo "enrolado." No contexto em que é usado, trata-se de um adorno que indica alguma riqueza ou status. Provavelmente, o uso de "tsanif" versus "mitsnefet" é para diferenciar o traje típico do cohen hagadol dos demais turbantes. Curiosamente, o termo sempre aparece em contextos figurativos: www.torahviva.org 8 “A retidão era a minha roupa; a justiça era o meu manto e o meu turbante [tsanif].” (Iyov/Jó 29:14) Outras passagens onde o termo aparece: • Is. 3:23; 62:3; • Zc. 3:5; " Percebe-se que o uso desse termo é puramente cultural, e reflete apenas um costume de pessoas de status no oriente médio. IV.3 - Atará " Literalmente, uma coroa. Era feita de metal (geralmente, ouro e pedras preciosas), e é associada a reis e governantes. Quando aparece figurativamente, refere-se à autoridade: “A seguir tirou a coroa [atará] da cabeça do rei, uma coroa [atará] de ouro de um talento; ornamentada com pedras preciosas. E ela foi colocada na cabeça de David...” (Shʼmuel Beit/2 Samuel 12:30) Outras passagens onde o termo aparece: • 2 Sm. 12:30; • 1 Cr. 20:2; • Es. 8:15; • Jó 19:19; 31:36; • Sl. 21:3; • Pr. 4:9; 12:4; 14:24; 16:31; 17:6; • Ct. 3:11; • Is. 28:1,3,5; 62:3; • Jr. 13:18; • Lm. 5:16; • Ez. 16:12; 21:26; 23:42; " Outro uso puramente cultural, que reflete apenas um costume dos reis e autoridades de usarem coroas. IV.4 - Chevel " Uma corda ou laço, mencionada duas vezes numa única passagem da Bíblia como algo possivelmente amarrado ao lado da cabeça Aparentemente, pelo contexto, era usado por pessoas humildes (ou que desejassem se humilhar), e se assemelha ao que aparece em um mural egípcio que representa os israelitas. Ao que tudo indica, provavelmente era usado para amarrar os cabelos para o trabalho. Há ainda algumas traduções que interpretam como colares. “Então, lhe disseram os seus servos: Eis que temos ouvido que os reis da casa de Israel são reis clementes; ponhamos, pois, panos de saco sobre os lombos e cordas [chavalim] à roda da cabeça e saiamos ao rei de Israel; pode ser que ele te poupe a vida. Então, se cingiram com pano de saco pelos lombos, puseram cordas [chavalim] roda da cabeça,” (Melachim Alef/1 Reis 20:31-32) " " Mais uma vez, o uso é plenamente cultural. IV.5 - Migba'ah " O termo vem da mesma origem de "gavah" que significa "alto ou projetivo." Não à toa, o termo "guivah" significa "morro ou montanha" e "gavia" que significa "taça." A Enciclopédia Judaica define da seguinte forma: ! "O termo usado para denotar as mitras dos sacerdotes comuns ('migba'ot', derivado de 'guebia' = 'taça') sugere uma cobertura de formato cônico, presa firmemente à cabeça." " Em outras palavras, era uma espécie de turbante que era atado de forma peculiar, formando uma espécie de um cone mais alto. Qual o provável objetivo desse formato peculiar? Provavelmente, era destacar o cohen (sacerdote) para que fosse facilmente visto em meio à multidão. Normalmente, aparece nas traduções para o português como “tiaras”, embora o formato não tenha nenhuma conexão com o que se entende modernamente por “tiara”: “Também Moshe fez chegar os filhos de Aron, e vestiu-lhes as túnicas, e cingiuos com o cinto, e atou-lhes os turbantes-cônicos [migbaʼot], como YHWH lhe ordenara.” (Vayicrá/Levítico 8:13) Outras passagens onde o termo aparece: • Ex. 28:40, 29:9, 39:28; • Lv. 8:13; IV.6 - Pe'er " O termo tem a mesma raíz de tiferet, e significa literalmente "belo" ou "beleza." Era usado para descrever basicamente um enfeite, adorno ou uma peça bela. Em Yeshayahu (Isaías), aparece como adorno usado pelo noivo. Em Yehezkel (Ezequiel), Elohim diz a ele para usar adornos, de modo a ocultar sua tristeza. Ou seja, era um traje cujo o objetivo era mesmo enfeitar. " É provável que nem todas as passagens onde o termo aparece refiramse a peças específicas para a cabeça, pois há pelo menos uma ocorrência (vide citação abaixo) onde a Bíblia se preocupa em explicar o tipo de adorno, indicando que poderiam ser de diversas naturezas. www.torahviva.org 10 " Algumas traduções trazem o termo como “ornamento”, outras como “turbante.” Porém, o termo não era usado apenas para turbantes, pois a Torá diz: “E o turbante [mitsnefet] de linho fino, e o ornamento das tiaras [paʼarei hamigbaʼot] de linho fino, e os calções de linho fino torcido” (Shemot/Êxodo 39:28) Outras passagens onde o termo aparece: • Is. 3:20; 61:3,10; • Ez. 24:17,23; 44:18 IV.7 - Charbela " Esse termo aparece uma única vez nas Escrituras, na parte aramaica de Daniʼel. O termo aramaico “charbela” é de difícil tradução, pois, segundo a concordância Strong, pode indicar “manto, túnica, turbante ou capacete.” " A passagem em Daniʼel não é suficientemente clara para sequer termos certeza de que se trata de uma cobertura de cabeça. Todavia, o mais provável é que “charbela” deva indicar uma espécie de pano, que provavelmente também poderia ser atado como um turbante: “E os três homens, vestidos com seus mantos, calções, turbantes [charbelot] e outras roupas, foram amarrados e atirados na fornalha extraordinariamente quente.” (Daniʼel 3:21) " A passagem refere-se aos três amigos de Daniʼel, e apenas indica que eles foram lançados na fornalha do jeito que estavam vestidos. Ou seja, é mais uma referência cultural. IV.8 - Análise das Escrituras " Pode-se concluir algumas coisas interessantes analisando os termos usados para coberturas de cabeça na Bíblia. " A que mais chama a atenção é a ausência de qualquer elemento que mesmo remotamente nos lembre a kipá. " Nas Escrituras, à exceção da coroa, as coberturas de cabeça tinham formato de turbante, eram feitas de tecidos finos (que, à época, custavam pequenas fortunas), e usadas não pelo povo de um modo geral, mas por pessoas de destaque. Eram um símbolo de status, e eram tidos como um artigo de grande beleza. " A própria Torá nos indica, ao usar o termo “peʼer” que os turbantes eram adornos. Ou seja, eles foram introduzidos por Elohim no Mishcan (Tabernáculo) por motivos relativamente simples de compreender. www.torahviva.org 11 " Os israelitas já estavam habituados a verem pessoas de status usarem turbantes. Quando Elohim determina que os cohanim (sacerdotes) usem turbantes de linho como peças de adorno, isto simbolizava não o “temor do céu”, como alguns supõem por hábitos posteriores, mas sim, segundo as próprias Escrituras, simbolizavam uma autoridade e um destaque perante o povo. " Não há nenhum exemplo de alguém do povo usando alguma peça de cabeça por razão de temor a Elohim, ou adotar o hábito dos turbantes de linho dos cohanim (sacerdotes.) " Se alguém, todavia, entendesse que o fato de nós sermos considerados cohanim (sacerdotes) em Yeshua indicaria que devêssemos usar algum tipo de chapéu, teríamos aí dois problemas: O primeiro é que um cohen (sacerdote) não usava qualquer chapéu, e sim um turbante de linho bastante específico. O segundo é a total ausência de qualquer menção a isso, mesmo como costume, na Bʼrit Chadashá (Segundo Testamento.) IV.9 - Yeshua Usava Kipá? " A Bʼrit Chadashá (Segundo Testamento) não traz nenhuma menção a Yeshua ou seus talmidim (discípulos) usando qualquer tipo de cobertura de cabeça, muito menos ainda por motivos religiosos. De fato, à época, nem mesmo a seita dos pʼrushim (fariseus) fazia tal uso. " Mesmo por séculos depois de Yeshua, as coberturas de cabeça usadas pelos israelitas (em sua maioria, turbantes) eram tidas unicamente como elemento cultural. Não eram usadas unanimemente, eram partilhadas por homens e mulheres, e não tinham qualquer conotação religiosa. Isso será visto mais adiante. " Sobre os tempos de Yeshua, o rabino Shmuel Safrai, professor emérito de História Judaica do Período Talmúdico e Mishnaico, da Hebrew University, afirma: ! "É certo que Yeshua, um judeu residindo na terra de Israel no primeiro século, não usava uma kipá (solidéu). O costume de usar uma kipá surgiu na Babilônia entre os séculos terceiro e quinto DC entre os residentes não judeus - os residentes judeus da Babilônia ainda não haviam adoptado esse costume, conforme as pinturas da [sinagoga] Dura-Europos mostram - e passaram de lá para a comunidade judaica na Europa. ! Apesar dos sacerdotes usarem um migba'at (uma cobertura de cabeça tipo um turbante - Ex. 28:4, 40; Lv. 8:13), outros judeus do período do Segundo Templo não usavam uma cobertura de cabeça. Isto é confirmado tanto pela literatura quanto por restos arqueológicos do período. Por exemplo, as gravuras no Arco de Tito em Roma, que representam a procissão da vitória em Roma logo em seguida à conquista de Jerusalém em 70 DC., mostram os judeus cativos de cabeças descobertas. Semelhantemente, as pinturas da sinagoga de meados do terceiro século DC escavados em Dura-Europos representam todos os homens judeus com as cabeças descobertas, exceto por Aarão o sacerdote." (Did Jesus Wear a Kippah?) " Acima, um dos painéis da Dura-Europos, representa a unção de David. Todos os homens aparecem de cabeças descobertas. IV.10 - O Encobrir/Ocultar a Cabeça " As Escrituras trazem ainda mais um elemento importante que deve ser analisado: ! “E seguiu David pela encosta do monte das Oliveiras, subindo e chorando, e com a cabeça coberta [chafui]; e caminhava com os pés descalços; e todo o povo que ia com ele cobria [chafu] cada um a sua cabeça, e subiam chorando sem cessar.” (Shʼmuel Beit/2 Samuel 15:30) " As palavras que aparecem acima traduzidas como as ações de cobrir vêm da raiz chafá, que significa “cobrir” ou “ocultar.” Aqui há a idéia de que David, provavelmente com a sua própria túnica, ocultou a sua cabeça. " Alguns chegam a tentar apontar essa passagem como evidência de que se deve orar com a cabeça coberta. Todavia, o que acontece aqui nessa narrativa é algo bastante específico: David estava amargurado, e humilhado. Ele sabia que, por conta de seu pecado, Avshalom (Absalão), seu próprio filho, se voltou contra ele. Tanto que, logo em seguida, Hushai se encontra com ele, com terra sobre a cabeça, e roupas rasgadas. " Repare que a referência aqui não é a um uso de chapéu, mas sim o ocultar a cabeça, em sinal de tristeza e humilhação. Pode-se ver isso com bastante clareza em outros trechos das Escrituras: “E os seus mais ilustres enviam os seus pequenos a buscar água; vão às cisternas, e não acham água; voltam com os seus cântaros vazios; envergonham-se e confundem-se, e cobrem [chafu] as suas cabeças. Por causa da terra que se fendeu, porque não há chuva sobre a terra, os lavradores se envergonham e cobrem [chafu] as suas cabeças.” (Yirmiyahu/ Jeremias 14:3-4) " Yirmiyahu haNavi (o profeta Jeremias) deixa bem explícito que o costume do “ocultar” a cabeça com pano ou túnica era um ato de humilhação. www.torahviva.org 13 Pode-se perceber que isso é bem diferente do uso do turbante, que era um símbolo de status. " Esse hábito, além de não ser um hábito religioso, também não era hábito exclusivo dos israelitas, e sim um costume do oriente médio. Pode-se perceber isso na narrativa de Hadassa (Ester), onde Haman também “oculta” a cabeça pelo mesmo motivo: “Depois disto Mordechai voltou para a porta do rei; porém Haman se retirou correndo à sua casa, triste, e de cabeça coberta.” (Hadassa/Ester 6:12) " Como visto, não havia entre os judeus o costume de “ocultar” a cabeça com o talit, ou com algum tipo de túnica, simplesmente para orar rotineiramente. O costume indicava, ao contrário, um sinal de tristeza, de luto ou humilhação. " Hoje em dia, todavia, esse costume existe, e é bastante difundido. Como visto, tal costume não se origina nas Escrituras, nem nos tempos antigos. De onde vem, então? " Esse costume, como vimos, não é mencionado nas Escrituras. Também não aparece na Mishná (século 2), nem tampouco no Talmud (séculos 3 a 6). De onde, então, deriva? A origem desse hábito, que não condiz com a prática bíblica, é incerta. " Talvez a resposta esteja nos costumes romanos. Isso não seria de todo surpreendente, tal o grau de assimilação de costumes pagãos por parte dos pʼrushim (fariseus). Porém, não se pode afirmar categoricamente que a origem esteja aí. Apesar disso, certamente essa era a origem da problemática vivida por Shaʼul (Paulo) em Corinto. Sendo assim, é importante conhecer esse costume romano. " Na adoração romana, o principal líder das orações tinha por hábito o chamado capite velato, isto é, o cobrir a cabeça. Não em sinal de humilhação – como era o costume bíblico – mas para realizar orações e oficiar o serviço religioso; costume esse que pode ter dado origem ao hábito posterior do chazan (o contudor das rezas) cobrir sua cabeça nas sinagogas farisaicas. " Sobre tal costume, o historiador e professor de ética religiosa David W.J. Gill afirma: "Tal imagem não é apenas visual, mas é encontrada na Res Gestae de Augusto, onde sua função como o pontifex maximus é enfatizada. Essa adoção de uma função sacerdotal foi adotada também por outros imperadores, e é assim que Nero é representado em uma estátua fragmentária em Corinto. Ele, semelhantemente, tem sua cabeça parcialmente coberta pela toga. Augusto claramente tem um papel específico em sua estátua. Ele é visto quer prestes a fazer um sacrifício ou a orar. Nem todos os presentes no sacrifício teriam que puxar sua toga sobre sua cabeça. Essa característica do chamado capite velato [cabeça coberta] era 'a marca iconográfica de um sacrificante presidindo sobre um ritual especificamente romano.'" (The Importance of Roman Portraiture for Head-Coverings in 1 Co. 11:2-16) Acima, uma imagem de Augusto com “capite velato.” Abaixo, um antigo mural representando um sacerdote romano vestido com “capite velato” (cabeça encoberta) conduzindo um serviço religioso. Ao lado desse, um chazan parush (condutor fariseu) da mesma forma. Por esta razão, associada à inexistência do costume nos tempos bíblicos, supõe-se que o costume romano possa ser a origem do costume farisaico. " Como se sabe Biblicamente, os israelitas jamais cobririam (ocultariam) suas cabeças de tal forma, exceto em momentos de profunda tristeza, humilhação ou vergonha. " Um forte indício de tal influência pode ser encontrado na Cabalá. Em seu artigo “When is the tallit pulled over the head during prayer?” o rabino Moshe Miller afirma: ! “É importante observar que, segundo a Cabalá, os doutores da Torá puxam seus Talitot sobre suas cabeças, uma vez que o talit encobrindo a cabeça alude à luz da Torá que envolve um doutor da Torá, enquanto as pessoas leigas simplesmente colocam o talit sobre seus ombros, deixando a cabeça descoberta.” " Não só essa idéia de que o talit encobrindo a cabeça seja uma alusão à luz da Torá contradiz completamente o contexto das Escrituras, que deixam claro que o cobrir a cabeça com um manto era sinal de humilhação, como ainda esse costume é idêntico ao costume do antigo clero do império romano. Por esta razão, deve-se suspeitar desse tipo de costume. IV.11 - Shaʼul (Paulo) e Corinto " O contraste entre o costume bíblico e o costume romano é particularmente relevante para compreender o contexto de Curintayah Alef (1 Coríntios) 11:4, onde Shaʼul (Paulo) afirma: “Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça oculta [mʼkassai], desonra a sua própria cabeça.” " É importante o leitor compreender que a expressão aramaica “kassai” significa literalmente algo que está “oculto/encoberto.” É análoga à raíz hebraica “kassá”, que significa a mesma coisa. " Um exemplo dessa raíz pode ser visto em Bereshit/Gênesis 24:65, com Rikvah (Rebeca) quando se aproxima de Yitschak (Isaque): “Então tomou ela o véu e cobriu-se. [titʼkas]” " " O que fez Rivkah (Rebeca) aqui? Tomou um véu e ocultou-se, como era costume nupcial na região do oriente médio - aliás, costume que influencia até as práticas ocidentais da atualidade. " Pode-se ver ainda um outro uso do termo: “Quando partir o arraial, Aron e seus filhos virão e tirarão o véu da tenda, e com ele cobrirão [vechissu] a arca do testemunho;” (Bamidbar/Números 4:5) " A arca era literalmente encoberta pelo véu, que a ocultava. " Há muitos outros usos do termo, como por exemplo o das águas cobrindo o mar (Is. 11:9), a glória de Elohim cobrindo o Sinai (Ex. 24:16), Elohim cobrindo os olhos de pessoas (Is. 29:10), e assim por diante. O importante aqui é percebermos que a raíz traz sempre essa idéia de um encobrimento que oculta. " Ou seja, pode-se entender que Shaʼul (Paulo) era contra o uso de chapéus, turbantes, etc.? Pode-se, ainda, supor que essa passagem é contrária ao uso da kipá? " A resposta é não. O termo aqui não se aplica de forma alguma a qualquer desses elementos, e sim ao ato de encobrir a cabeça, como quem coloca um véu. Sequer faria sentido que Shaʼul (Paulo) considerasse esse costume condenável visto que não apenas o costume do uso de turbantes aparece nas Escrituras, como era comum também em meio a muitos povos da região. Não faria sentido, portanto, o escândalo com tal coisa. " Shaʼul (Paulo) também não poderia estar se referindo à kipá. Por mais que essa última seja de origem pagã, esse costume não existia naqueles tempos, conforme será abordado mais adiante. " Para entender Shaʼul (Paulo), é simples: Basta relembrarmos o que a Bíblia diz acerca desse ato. Como vimos, os homens encobriam suas cabeças em sinal de luto, vergonha ou humilhação. Seria, portanto, um grande choque para qualquer israelita da época ver pessoas rezando com as cabeças encobertas. Imediatamente, um israelita pensaria que aquela congregação estava clamando por ter cometido um grande pecado, ou estaria entristecida com algo que lhe ocorrera. Vale relembrar que os israelitas dos tempos bíblicos costumavam compreender que se uma catástrofe havia lhes afligido, era em razão de terem dado brecha por razão do pecado. " Corinto tinha um alto número de convertidos não-israelitas de origem, e certamente tais pessoas teriam estado habituadas ao costume romano do capite velato. " Além de ser interpretado como um ato de humilhação, ainda poderia ser confundido com o costume das mulheres, que usavam véu regularmente nos serviços religiosos. Observando esse contexto, fica fácil compreender o que Shaʼul (Paulo) queria dizer. " A conclusão da instrução de Shaʼul (Paulo) é exatamente a mesma que alguém teria de ler o Tanach (Primeiro Testamento): Não se deve cobrir/ocultar a cabeça, exceto quando se está humilhado/entristecido. " Isso inclui o uso do talit para cobrir a cabeça para fazer orações que, como visto, é muito posterior aos tempos bíblicos, e pode até mesmo ter sua origem no costume pagão de Roma. " Se formos voltar às práticas bíblicas, o cobrir a cabeça (que poderia ser com o talit, por exemplo), caberia em um momento de jejum ou arrependimento de pecado, numa liturgia lamuriosa como no Yom Kipur (Dia da Expiação), ao orar por razão de uma tragédia, em momento de luto, enfim, algo dentro desse contexto, e não numa prática de oração e/ou cânticos de louvor a Elohim convencionais, do dia-a-dia. " Mesmo assim, é importante que o leitor compreenda que esse era um costume bíblico, e não uma obrigação. A Bíblia jamais instrui que alguém que esteja se sentido humilhado, triste ou envergonhado é obrigado a cobrir-se com um manto. Tal prática, sendo assim, é totalmente opcional. V - A Literatura Judaica e a Evolução do Costume " E o que revela a literatura judaica sobre a questão do cobrir a cabeça? Abaixo, uma investigação detalhada da Mishná e do Talmud. V.1 - Na Mishná: Costume Cultural Unissex " Na Mishná, que foi compilada no século 2 DC, não há qualquer registro de cobertura de cabeça para o povo com fins religiosos. Pelo contrário, a Mishná faz relatos de tais coisas como se fossem unicamente objetos de vestimenta comum. Aliás, vestimenta essa que era utilizada por homens e mulheres, indiscriminadamente: ! "As franjas de um lençol, um cachecol, um xale de cabeça, um chapéu de feltro… as franjas de uma capa grossa, um véu, uma camisa, ou uma capa… as franjas de um xale de cabeça de uma mulher idosa, ou os xales de rosto dos árabes, as vestes de pelo de bode dos cilícios, ou de um cinto de dinheiro, ou de um turbante ou de uma cortina são considerados conectivos independentemente de seu comprimento." (m. Kelim 29:1) " Isso confirma a nossa observação de que, pelo menos até o século 2 DC (e portanto igualmente nos tempos de Yeshua), não havia entre o povo sequer o conhecimento do uso de cobertura de cabeça para fins religiosos, nem mesmo entre os pʼrushim (fariseus.) V.2 - Costume Cultural, e Não-Unânime. " Praticamente não há menção no Talmud, que foi compilado entre os séculos 3 e 6 DC, do hábito de cobrir a cabeça, que não seja apenas um hábito cultural. O Talmud chega a relatar, por exemplo, que os homens cobriam ou não a cabeça, culturalmente: ! "Os homens às vezes cobrem suas cabeças, às vezes não; mas o cabelo das mulheres está sempre coberto, e as crianças estão sempre com a cabeça descoberta." (b. Nedarim 30b) " O hábito de usar turbantes ou xales enrolados sobre a cabeça era tão comuns, que o Talmud chega a questionar se o contato deles com coisas tidas pelos pʼrushim (fariseus) como sagradas seria um problema. Abaixo há dois exemplos disso: ! "Um [Baraita] ensinou: Um homem pode atar tefilin usando seu aparkesut [uma cobertura de cabeça que ia até o corpo] junto com seu dinheiro, enquanto outro ensina: Ele não deve amarrá-los!" (b. Berachot 23b) ! "Eles são confiáveis [apenas] acerca de pequenos vasos de barro para coisas sagradas… mesmo se a cobertura de cabeça [do oleiro] cair neles." (b. Chaguigá 26a) " Uma situação curiosa é o apelido de um dos sábios do Talmud, que é chamado de “cabeça careca”, o que é mais um indício de que o hábito de cobrir a cabeça não era unânime na época: ! "Não foi ensinado: Ben Azzai diz: Todos os sábios de Israel são, em comparação comigo, finos como a casca do alho, exceto pelo cabeça careca?" (b. Bechorot 58a) V.3 - Em alguns casos: Hábito para Casados " Outro hábito cultural citado pelo Talmud era o de que homens casados andassem com uma espécie de sudário (conforme o rabino Dr. I. Epstein, editor da edição Soncino do Talmud, explica em nota de rodapé para b. Kidushin 29b). Ou seja, um pano que era amarrado à cabeça, provavelmente semelhante a algum tipo de turbante. " Mesmo esse hábito entre homens casados sequer era unânime, conforme o próprio Talmud deixa claro. Vejamos as citações: ! "R. Hisda louvou R. Hamnuna perante R. Huna como um grande homem. Ele lhe disse: 'Quando ele te visitar, traga-o a mim.' Quando ele chegou, ele viu que ele não usava cobertura [de cabeça]. Por que você não está usando cobertura de cabeça?' - perguntou ele. 'Porque eu não sou casado', foi a resposta." (b. Kidushin 29b) ! "Rabina se sentava perante R. Jeremiah de Difti quando um certo homem passou sem usar sua cobertura de cabeça. Que despudorado aquele homem! - ele exclamou. Ele lhe disse: Talvez ele seja da cidade de Mehasia, onde os acadêmicos são muito comuns." (b. Kidushin 33a) " Percebe-se ainda, pelo relato acima, que o uso era apenas uma questão de pudor, provavelmente influenciada por alguma cultura adjacente, uma vez que nem a Bíblia, nem mesmo a Mishná, mencionam esse hábito em meio ao povo de Israel. E, como pode ser visto, a revolta de R. Jeremiah, e o comentário de Rabina, indicam que o hábito não era comum a todo o povo. V.4 - O Costume do Luto " O Talmud também reconhece o hábito, mencionado na Bíblia, de se cobrir a cabeça (como quem se cobre com um manto) em caso de luto, e faz menção ao mesmo costume: ! "Raba disse: Um pranteador pode andar em sua cobertura [rasgada] dentro de casa [no Shabat.] Abaye encontrou R. Joseph entrando e saindo de sua casa, com sua cabeça coberta com um pano [no Shabat.]." (b. Mo'ed Katan 24a) ! "Quando o Templo foi destruído, acadêmicos e nobres se envergonharam e cobriram suas cabeças." (b. Sotá 49a) ! "E Mordechai retornou ao portão do rei. R. Sheshet disse: Isto indica que ele retornou ao seu pano de saco e jejum. E Haman se apressou para sua casa, pranteando e cobrindo sua cabeça; pranteando por sua filha, e com sua cabeça coberta em razão do que lhe acontecera." (b. Meguilá 16a) " Conforme já visto, o costume de cobrir a cabeça (como quem se cobre com um manto) era também um elemento cultural, extensível a outros povos do oriente médio. V.5 Seriam os Cohanim a fonte? " O Talmud traz algumas discussões e relatos sobre a cobertura de cabeça dos cohanim (sacerdotes), porém são unicamente relatos descritivos, sem nenhuma colocação de que o hábito deveria ser estendido ao povo, ou mesmo a rabinos. Enfim, nada que sirva para elucidar o tema em voga. " Mas, e quanto a outras menções de cobertura de cabeça para fins religiosos?Existem apenas quatro citações de cobertura de cabeça, com finalidade religioso. " Duas delas, referem-se a um mesmo caso, o de R. Huna, que viveu no século 3 DC, é o primeiro personagem que aparece no Talmud como sendo alguém que cobria a cabeça regularmente, por motivos religiosos. R. Huna Ben R. Joshua não andava quatro cúbitos com a cabeça descoberta, dizendo: A Shechiná está sobre a minha cabeça." (b. Kidushin 31a). ! R. Huna esperava, inclusive, uma recompensa celestial para esse fato: "R. Huna Ben R. Joshua disse: Que eu possa ser recompensado por nunca andar quatro cúbitos com a cabeça descoberta." (b. Shabat 118b) ! Só que existe um detalhe importante sobre R. Huna. Ele era um cohen (sacerdote), conforme o próprio Talmud afirma em b. Arachin 23a. Considerando que nenhum outro acadêmico do Talmud aparece defendendo cobertura da cabeça por razões religiosas, não é difícil perceber que R. Huna se sentia obrigado a cobrir sua cabeça por ser um cohen (sacerdote). A Torá determinava, conforme vimos, que os cohanim (sacerdotes) usassem turbantes de linho. Todavia, a recomendação era unicamente para o serviço no Mikdash (Santuário), e não algo para o dia-a-dia. Provavelmente, R. Huna levou essa recomendação ao extremo. V.6 - A Influência Pagã é Admitida " As outras duas citações do Talmud que mencionam uso religioso de cobertura de cabeça não são muito animadoras. " " A primeira delas se encontra em b. Shabat 156a. É importante que o leitor compreenda que este folio do Talmud se inicia debatendo o costume pagão de atribuir o destino aos astros. Depois de algumas discussões sobre isso, o Talmud narra: ! "De R. Nachman b. Isaac também [aprendemos que] Israel está livre de influência planetária. Pois a mãe de R. Nachman b. Isaac foi alertada por astrólogos: Seu filho será um ladrão. [Então] ela não o deixava [ficar] com a cabeça descoberta, dizendo-lhe: 'Cobre tua cabeça para que o temor dos céus esteja sobre ti, e ora [por misericórdia.]' Agora, ele não sabia o porquê ela dizia isso a ele. Um dia ele estava sentando e estudando sob uma palmeira; a tentação o sobrepujou e ele subiu e mordeu um cacho com seus dentes." (b. Shabat 156b) " Vê-se aqui a influência da astrologia em meio ao povo. Essa influência já foi discutida em alguns de nossos materiais, em especial em nosso primeiro artigo sobre a origem pagã da Cabalá. Perceba que, ao ser alertada por astrólogos, a mãe do rabino Nachman, por ato de superstição, cobre a cabeça de seu filho, tentando assim protegê-lo da influência dos astros. Essa é exatamente a razão pela qual os babilônios, que viviam em constante temor da influência dos seus deuses-astros, cobriam suas cabeças! E justamente aqui, vê-se que quando sua cobertura de cabeça caiu, ele então foi vencido pela “influência dos astros” - algo que é completamente estranho às Escrituras, mas que está profundamente arraigado na cultura babilônia. " A outra praticamente chega a admitir o sincretismo religioso: ! "Trazei as vestimentas para os adoradores de Ba'al. O que é meltaha? R. Abba b. Jacob disse em nome de R. Johanan: Algo que é delineado fino pela unha (ie. linho fino). Quando R. Dimi veio, ele disse em nome de R. Johanan: Bonias Ben Nonias enviou ao Rabi um sibni e um homes e salsela e malmela. O sibni e homes [dobravam] ao tamanho de uma noz e meia, e a salsela e a malmela ao tamanho de uma noz de pistache e meia. O que é malmela? Algo que a unha mede como fino.” (b. Guitin 59a) " Aqui o Talmud menciona que um rabino recebeu de presente de uma pessoa uma vestimenta de um adorador de Baʼal! " O mais interessante é o comentário do rabino Dr. I. Epstein, que aparece ao rodapé desse texto na edição Soncino: ! “Coberturas de cabeça feitas de linho. [O Aruch lê: subni e homes subni. Para subni cf.grego ** (sabanum) uma ʻcobertura de cabeçaʼ; homes é derivado do grego ** (metade). Segundo essa leitura, ele lhe enviou um sabanum de tamanho cheio, e um sabanum de metade do tamanho. V. Krauss, TA I, p. 521.]” " Veja que interessante: O texto fala de cobertura de cabeça, e usa o termo “homes.” Esse termo vem do grego “hemi”, que significa literalmente “metade”, e é usada em termos como “hemisfério.” Porém, a aplica à cobertura de cabeça, além de associá-la aos adoradores de Baʼal, ou seja, a sacerdotes pagãos. " Isso se encaixa totalmente com a descrição da cobertura de cabeça associada aos deuses gregos, que, como visto anteriormente, tem exatamente o mesmo formato da kipá, isto é, um formato de um hemisfério, ou seja, de metade de uma esfera! " O leitor atento perceberá que, até o momento, não havia nenhuma menção nem no Talmud nem na Mishná sobre qualquer tipo de cobertura de cabeça semelhante à kipá. A única que existe, e que pode-se deduzir uma semelhança estética com a kipá, é indicada pelo Talmud como pertinente a sacerdotes pagãos! " O costume de cobrir a cabeça de forma litúrgica, especialmente com uma kipá, só começou a se expandir pelo Judaísmo por volta do final do século 7 ou início do século 8, mesma época o que marcou a expansão da Cabalá, cuja origem, como vimos, também remonta aos mistérios de Mitra. " A importação do costume da kipá a partir do paganismo é admitida abertamente pelos pʼrushim (fariseus). O rabino ortodoxo Rudolph Brash, em sua obra “The Star of David”, afirma: ! "O paradoxo reside no fato de que essa prática (de cobrir a cabeça), considerada fundamentalmente judaica e santa pela tradição antiga, na realidade é pagã, e em termos de cronologia judaica, comparativamente moderna. A verdade é que a prática de cobrir a cabeça foi copiada do seu ambiente pelos judeus babilônios. Esses judeus babilônios levaram o seu costume para os litorais da Espanha no século 8 AD, quando ele se tornou firmemente estabelecido. Contudo, ao mesmo tempo em outros cantos da Europa, era desconhecido. A história registra que, na mesma época, jovens [judeus] alemães eram chamados para a leitura da Torá com a cabeça descoberta. A cobertura da cabeça, apesar de naquele momento ser praticada na Espanha e em Portugal, não tinha tomado raíz no leste ou norte da Europa. Um famoso rabino do século dezesseis, o rabino Moses Isserles, cuja obra está inclusa no livro 'O Código da Lei Judaica - o Shulchan Aruch', ensinava que 'a cobertura da cabeça não poderia ser considerada um princípio religioso.' Ainda mais recentemente, no século dezoito, a eminente autoridade judaica, rabino Eliyah Gaon de Vilna, afirmava: 'De acordo com a Lei Judaica, é permitido entrar numa sinagoga sem cobrir a cabeça.'” " De fato, a história confirma que os primeiros a adotarem o costume da kipá, no século 8, foram os judeus sefaradim, na Península Ibérica. Na época, o costume era completamente estranho à prática dos judeus ashkenazim, que continuavam a rezar com suas cabeças descobertas. Pouco a pouco, o costume foi ganhando força no meio judaico, até se tornar bastante presente em todas as comunidades. " Contanto, o costume só ganhou status definitivo de obrigatoriedade religiosa com o Shulchan Aruch, no século 16, quando, baseado na prática que vimos de R. Huna no Talmud, afirmou que um homem não pode andar mais do que quatro cúbitos com a cabeça descoberta (Orach Chayim 2:6.) VI - Onde está a verdadeira identidade? " É no mínimo bastante curioso observar que até mesmo em congregações de seguidores de Yeshua que restauram as raízes judaicas da fé, obriga-se os homens a fazerem uso da kipá, algo que não só apenas se tornou obrigatório no meio judaico a partir do século 16, como ainda é de origem pagã. Essa obrigação é anacrônica (nenhum judeu do primeiro século usava tal coisa), abominável (por ter sua origem na prática babilônia), além de ser uma exigência que a Bíblia jamais impôs a ninguém. " É triste também observar que muitos usam a kipá, considerando-a um símbolo de judaicidade - embora não seja, pois outros grupos religiosos com costumes que também derivam do Mitraísmo também façam uso dela, tal qual os padres romanos, e os zoroastristas. " Em contrapartida, existe um número muito menor de pessoas que faz uso regular dos tsitsiyot, as franjas que a Torá determina em Bamidbar (Números) 15 e em Devarim (Deuteronômio) 22. Essas sim são um símbolo do povo de Israel, determinado por Elohim. VII - E agora, o que fazer? " Talvez alguns leitores, após tomarem contato com este material, sintamse em situação delicada, por terem que ir a um local que exija que a cabeça esteja coberta. Se alguém, por exemplo, for convidado a assistir a um casamento judaico, ou a falar sobre Yeshua e/ou a Torá em uma sinagoga que tenha essa hábito. O que fazer, nesse caso? " É importante que o leitor compreenda que, embora a kipá e o hábito de cobrir a cabeça por “temor aos céus” sejam de origem pagã, as Escrituras não são contra o uso de chapéus e outros adornos de cabeça. Sendo assim, a recomendação que se dá é a de que a pessoa opte por algum outro tipo de adorno de cabeça, tal como um chapéu convencional, uma boina ou boné, enfim, algo que seja destituído de significação religiosa. Normalmente, esse tipo de cobertura de cabeça é aceito mesmo nas sinagogas ortodoxas. " Em sua prática pessoal, ou em sua comunidade, o israelita do caminho, todavia, não deve utilizar cobertura de cabeça, nem cobrir sua cabeça com talit, salvo em caso de luto, tristeza ou humilhação, como é o costume bíblico, e com era o costume judaico nos tempos de Yeshua. VIII - Conclusões " Abaixo, um resumo do que foi abordado neste estudo: ✓ A kipá, ou solidéu, não é um símbolo judaico, mas tem sido usada por vários grupos étnicos de diversas religiões pagãs. ✓ A kipá, ou solidéu, não se originou em meio a Israel, e sim na cobertura das tonsuras, na região da Mesopotâmia, em conexão à adoração ao deus-sol. ✓ A kipá, ou solidéu, foi importada por diversas religiões, a partir de seu contato com a cultura babilônia, especialmente com os mistérios do Mitraísmo. ✓ Nos tempos bíblicos, os israelitas comuns não tinham por hábito cobrir a cabeça para fins religiosos. ✓ A cobertura de cabeça que aparece nas Escrituras era fundamentalmente um turbante. ✓ Elohim ordenou que os cohanim (sacerdotes) usassem turbantes de linho simplesmente porque isso indicava status social na região do Oriente Médio, e com isso o povo os identificaria como líderes escolhidos. Não há, nas Escrituras, a idéia de que tal coisa significasse “temor dos céus.” ✓ Nem Yeshua, nem seus seguidores, usavam kipá ou qualquer cobertura de cabeça para fins religiosos. Essa prática só surge no Judaísmo entre os séculos 3 e 6. ✓ A prática só tomou volume no final do século 7, ou início do século 8, entre os judeus sefaradim. Ainda assim, a prática era desconhecida pelos ashkenazim. ✓ A Bíblia ressalta que o cobrir a cabeça com um manto era sinal de vergonha, humilhação ou tristeza. ✓ O costume de cobrir-se com o talit (especialmente no caso do chazan) para orações convencionais vai contra o costume bíblico, e era desconhecido no Judaísmo antigo. Esse costume pode ter se originado no costume romano, pois é a marca do antigo sacerdócio romano. ✓ Pelas razões acima citadas, além de não se usar kipá, deve-se também evitar cobrir a cabeça com talit nas orações, salvo opcionalmente nos casos de vergonha, humilhação ou tristeza, conforme o costume das Escrituras. 24

Yeshua é YHWH

Yeshua é YHWH Introdução Muitas pessoas aceitam que Yeshua é o Messias, contudo negam a sua divindade. Este artigo visa listar um grande número de provas de que Yeshua é o Eterno manifesto em carne. Muitos dos atributos usados pela B’ rit Chadashá (Novo Testamento) para descrever Yeshua aplicam-se somente a YHWH. Vejamos alguns deles: 1 – Unidade com YHWH “ Eu e o Pai somos UM” (Yochanan 10:30 Jamais qualquer criatura pôde fazer tamanha alegação: ser UM com o Eterno! 2 – Ihieh-Asher-Ihieh “ Respondeu-lhes Yeshua: Amen, Amen, eu vos digo que antes que Avraham existisse, EU SOU.” Esta passagem, Yeshua usa a expressam “ Ena Na” no Aramaico, que é equivalente à “ Ihieh” no Hebraico, numa alusão ao nome com o qual o Eterno se revela a Moshe: Ihieh-Asher-Ihieh (Eu sou/serei o que sou/serei) Posteriormente, na mesma passagem, Yeshua é quase apedrejado porque os seus ouvintes entenderam que Ele estava se declarando como sendo YHWH manifesto em carne. 3 – Glória e Pré-Existência “ Agora, pois, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que Eu tinha contigo antes que o mundo existisse.” Somente YHWH é digno de glória. Somente YHWH existia antes da criação. 4 - Onipresença “ Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” Poderia qualquer criatura estar em qualquer lugar onde estivessem os homens? Somente YHWH é onipresente! 5 – Digno de Confiança “ … Maldito o homem que confia no homem… ” (Yermiyahu 17:5) “ Não se turbe o vosso coração; credes em Elohim, crede também em mim.” (Yochanan 14:1) Aqui, neste contexto, o ‘ crer’ é usado como sinônimo de ‘ confiar’ . Como poderíamos confiar em um homem se este homem não fosse uma manifestação do Eterno? 6 – Autor da Vida “ Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem Ele quiser.” (Yochanan 5:21) “ e matastes o Autor da vida, a quem Elohim ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas.” (Atos 3:15) Só há UM que pode dar a vida: o Eterno nosso Criador. Se Yeshua é capaz de dar vida, então Ele só pode ser uma manifestação do Eterno. 7 - Juiz “ Porque o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento” (Yochanan 5:22) Somente YHWH pode julgar. É YHWH quem julgará a humanidade no fim dos dias. Portanto, se é o Filho que julgará, então o Filho é uma manifestação do Eterno. 8 – Quem Pode Perdoar Pecados? “ E Yeshua, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados são os teus pecados.” (Yochanan 2:5) Somente YHWH tem o poder de perdoar pecados. 9 – Autoridade sobre Céus e Terra “ E, aproximando-se Yeshua, falou-lhes, dizendo: Assim como meu Pai me enviou Eu também vos envio. Foi-me dada toda a semichá [autoridade] no céu e na terra.” Somente YHWH tem autoridade sobre os céus e a terra. 10 – Quantos Elohim Podemos Ter? “ Não terás outro Elohim diante de mim.” (Shemot / Êxodo 20:3) “ aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da Shechiná do nosso grande Elohim e Salvador o Mashiach Yeshua.” (Tito 2:13) Não podemos ter outro Elohim. Se o Eterno é nosso Elohim, e Yeshua é nosso Elohim, então Yeshua é uma manifestação do Eterno. 11 - Onisciência “ e ferirei de morte a seus filhos, e todas as kehilot saberão que Eu [Yeshua – vide verso 27] sou aquele que esquadrinha os rins e os corações; e darei a cada um de vós segundo as suas obras.” (Apocalipse 2:23) Somente o Eterno é onisciente, e portanto capaz de nos esquadrinhar. 12 – Tudo Sujeito a Ele “ Mas a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos um Salvador, o Senhor Yeshua HaMashiach, que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.” (Filipenses 3:21) Somente YHWH tem poder para sujeitar a si todas as coisas. 13 – Resplendor da Glória de YHWH “ sendo Ele o resplendor da Sua Shechiná e a expressa imagem do Seu Ser, e El-Shadai pelo poder da Sua palavra, e em Sua essência realizou a purificação dos nossos pecados, e assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3) Nenhuma criatura poderia ser o resplendor da Shechiná. Além disto, somente o Eterno pode se assentar no Trono dos Céus. 14 – Imutável e Eterno “ Yeshua HaMashiach é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.” (Hebreus 13:8) Somente YHWH é o mesmo ontem, hoje, e eternamente. 15 – Manifestação de YHWH “ porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade,” (Colossenses 2:9) Aqui fica claro que Yeshua é a manifestação em carne de YHWH. 16 – Pastor de Israel O Tanach (Primeiro Testamento) nos revela que YHWH é o Pastor de Israel “ Porque assim diz AD-NAI Elohim: Eis que eu, eu mesmo, procurarei as minhas ovelhas, e as buscarei. Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas. Livrá-las-ei de todos os lugares por onde foram espalhadas, no dia de nuvens e de escuridão.” (Ezekiel 34:11-12) Sabemos também que Yeshua declarou: “ Eu sou o bom pastor, o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (Yochanan 10:11) porque o Cordeiro que está no meio, diante do trono, os apascentará e os conduzirá às fontes das águas da vida; e Elohim lhes enxugará dos olhos toda lágrima. (Apocalipse 7:17) 17 – Aceitando Adoração Sabemos também que somente YHWH é digno de adoração. Yeshua certamente sabia disto. Mesmo assim, vemos que Ele aceitou adoração. Portanto, só pode ter sido YHWH manifesto em carne: “ E entrando na casa, viram o menino com Miriyam sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro incenso e mirra.” (Matitiyahu 2:11) “ Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Elohim.” (Matitiyahu 14:33) “ E eis que Yeshua lhes veio ao encontro, dizendo: Shalom. E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés, e o adoraram.” (Matitiyahu 28:9) “ Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.” (Matitiyahu 28:17) Yeshua é YHWH?-Parte II Por Sha'ul Bentsion Yeshua e o Tetragrama Uma das evidências internas claríssimas do chamado “ Novo” Testamento acerca da divindade do Messias é o uso do tetragrama em conexão com o seu nome. O tetragrama “ Yud-Hey-Vav-Hey” (transliterado aqui como YHWH) é o Nome Sagrado do Eterno YHWH de Israel. Na Peshitta aramaica, encontramos referências tanto diretas quanto indiretas a Yeshua utilizando o Nome Sagrado. Aqui, nos ateremos a apenas às referências mais diretas. O Testemunho do Tanach Mas como encontramos essas referências ao tetragrama? Simples: a Peshitta possui, além do texto neotestamentário, uma tradução do Tanach (Primeiro Testamento) para o aramaico. O Tanach da Peshitta traz a expressão MarYah toda vez que o texto hebraico original traz o tetragrama. A expressão nunca é usada no Tanach da Peshitta para se referir a qualquer outra coisa que não seja o tetragrama, isto é, o Nome Sagrado do Eterno. No texto neotestamentário não é diferente. MarYah jamais aparece em conexão a outra coisa que não ao Eterno e a Yeshua HaMashiach. Inclusive, onde há citações diretas do Tanach, e no Tanach temos o tetragrama YHWH, no texto neotestamentário também aparece MarYah. Análise Lingüística do Termo ‘ MarYah’ Uma análise linguística de MarYah também aponta para o tetragrama, pois MarYah é uma palavra composta. Os dois radicais são "Mar" (mesma raíz de "Maran" -repare que onde temos "Senhor" porque a Peshitta traz "Maran" ou “ Marah” , a forma enfática) e “ Yah” . “ Mar” significa "Senhor" e Yah, é uma alusão ao nome de YHWH, como em “ Hallelu Yah” (Louvai a YHWH) ou “ EliYah” (YHWH é o meu Elohim), e assim por diante. Logo, MarYah significa literalmente “ S-nhor Yah", e desta forma faz alusão ao tetragrama. Existe um estudo excelente a respeito do tema, feito pelo aramaicista teólogo messiânico Andrew Gabriel Roth. O estudo dele pode ser visto abaixo: http://aramaicnttruth.org/downloads/outside/AramaicJesusGodMaryahAlaha.pdf Resumo das Evidências Levando-se em conta os argumentos de que: 1 -No Tanach a Peshitta traz MarYah onde no hebraico temos o tetragrama; 2 -No Tanach, esta palavra aparece exclusivamente se referindo ao Eterno; 3 -No NT, esta palavra só aparece em referência direta a YHWH (cerca de 200), e em algumas poucas (cerca de 30~40) referências a Yeshua. 4 -A raiz linguística da palavra aponta para Senhor + Yah 5 -A palavra "Maran" é usada como "Senhor" em diversos outros pontos, distinguindo-se do uso de MarYah 6 – MarYah não é a forma enfática tradicional de “ Senhor” em aramaico, como algums pressupõe. A forma enfática é “ Mará” , que é utilizada em outros pontos da Peshitta Ocorrências onde Yeshua é chamado de YHWH Segue uma lista de ocorrências do tetragrama YHWH, o Nome Sagrado do Eterno, atribuído diretamente a Yeshua, e comentários a respeito. 1 – YHWH Manifesto como Messias “É que vos nasceu hoje, na cidade de David, o Salvador, que é YHWH o Mashiach.” (Lc 2:11) “antes santificai em seus corações a YHWH, o Mashiach, e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós;” (1 Kefa 3:15) “Porque foi para isto mesmo que o Mashiach morreu e tornou a viver, para ser YHWH tanto de mortos como de vivos.” (Rm. 14:9) “Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Yeshua, a quem vós executastes, Elohim o fez YHWH e Mashiach.” (At. 2:36) “Sabendo que do Senhor recebereis como recompensa pela herança; pois vós servis a YHWH o Mashiach.” (Cl. 3:24) Nos textos supracitados, temos uma demonstração teológica por parte dos escritores de que o Mashiach seria uma manifestação do próprio YHWH. Na Torá, as diferentes manifestações de YHWH interagem entre elas. Temos um exemplo bem claro na destruição de Sodoma e Gomorra, onde a Torá diz que YHWH fez chover fogo de YHWH. De forma semelhante, aqui temos YHWH dando autoridade a YHWH. Isto é, são manifestações diferentes de uma mesma força divina. 2 – Aquele que Perdoa “Respondeu ela: Ninguém, YHWH. E disse-lhe Yeshua: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.” (Jo. 8:11) Esta passagem é bastante significativa. Aqui temos a mulher adúltera chamando a Yeshua de YHWH. Mas por que ela faria isso? Se pensarmos no contexto, essa mulher havia acabado de ser perdoada de seus pecados, pelo próprio Yeshua. Como toda judia bem instruída na Torá, ela sabia que somente YHWH teria o poder para perdoá-la. Ela percebe que o perdão que a salvou foi um milagre, e imediatamente reconhece o Pai encarnado. É irônico, porém totalmente coerente com a mensagem do NT, que uma mulher tida como “ pecadora” tenha reconhecido a YHWH, coisa que seus acusadores, apesar de toda a sua moral, não foram capazes de fazer. 3 – O Caráter Salvífico de YHWH “Kefá então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja imergido em nome de YHWH Yeshua para remissão de seus pecados; a fim de receber o dom da Ruach HaKodesh.” (At. 2:38) “Eu sei, e estou certo em YHWH Yeshua que nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo.” (Rm. 14:14) “Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amen; vem, YHWH Yeshua.” (Ap. 22:20) No Tanach, frequentemente temos o uso de dois ou três nomes do Eterno em sequência, pois cada nome do Eterno simboliza um aspecto da Sua natureza. Temos vários exemplos tais como “ YHWH Elohim” , “ YHWH Tseva'ot” , “ YHWH Shadai” , “ Adonai YHWH” , etc. Aqui, somos apresentados ao termo “ YHWH Yeshua” , expressando o caráter de YHWH que expressa a Sua salvação. 4 -Unicidade “todavia para nós há um só Elohim, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só YHWH, Yeshua HaMashiach, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também.” (1 Co. 8:6) Aqui Paulo demonstra dois aspectos do Eterno. O primeiro é o da sua unicidade (e não pluralidade, como a maioria entende), e o segundo é o das suas diferentes manifestações, pois ao mesmo tempo em que o identifica como Elohim, também o identifica como YHWH e como Mashiach. Ou seja, Paulo está nos ensinando que só há um Elohim cujas essências divinas podem se manifestar de forma distinta, sem entretanto deixarem de ser essências de um mesmo Ser Supremo. 5 – Uso Sinônimo “De modo que qualquer que comer do matsá, ou beber do cálice de YHWH indignamente, será culpado do corpo e do sangue de YHWH.” (1 Co 11:27) “Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo de YHWH.” (1 Co 11:29) Aqui Paulo usa YHWH como sinônimo para Yeshua, pois Yeshua é o próprio YHWH limitado em Sua glória e feito carne. O corpo e o sangue de Yeshua são chamados de corpo e sangue de YHWH. 6 – Declaração Explícita “Portanto vos quero fazer compreender que ninguém, falando pela Ruach Elohim, diz: Yeshua é amaldiçoado! e ninguém pode dizer: Yeshua é YHWH! senão pela Ruach HaKodesh.” (1 Co. 12:3) “A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Yeshua HaMashiach. Ele é YHWH sobre todos.” (At. 10:36) “para que ao nome de Yeshua se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Yeshua HaMashiach é YHWH, para glória de Seu Pai Elohim.” (Fp. 2:10- 11) As passagens acima são declarações explícitas de que Yeshua é YHWH e dispensam qualquer comentário. 7 – O Adam Kadmon “O primeiro homem, sendo da terra, foi terreno; o segundo homem foi o [próprio] YHWH celestial.” (1 Co. 15:47) Desde os primórdios de Israel, a Cabalá fala de uma crença no fato de que as Sefirot (luzes/essências/manifestações) do Eterno projetavam uma imagem delas mesmas. Tal imagem era o próprio Eterno, e era conhecida como Adam Kadmon, ao qual o Zohar chama de “ Homem Celestial” . A questão do Adam Kadmon é a seguinte: para que o homem fosse criado à imagem e semelhança de YHWH, o Eterno se manifestou através desta imagem das suas Sefirot. Ou seja, o Adam Kadmon é a manifestação do Eterno através da qual o homem foi criado. Yochanan (João) já havia dito que o homem fora criado através da essência do Filho. Paulo aqui vai mais além e diz que Yeshua é o Adam Kadmon. Ou seja, Ele é uma manifestação do Eterno. Yeshua é YHWH? (Parte 3) Por Sha'ul Bentsion 1 -Introdução As mesmas pessoas que costumam defender a tese de que Yeshua é divino, ou seja, é um deus mas não é YHWH, inadvertidamente colocam-se em um beco sem saída teológico, ao admitir corretamente que não existe um corpo chamado “igreja” distinto de Israel. Para demonstrar o erro ebionita, vamos primeiramente lidar com o erro da teologia das “entidades separadas.” 2 -Quem é o Corpo do Messias? “Ora, vós sois corpo do Mashiach, e individualmente seus membros.” (1 Co. 12:27) Aqui, Rav. Sha'ul (Paulo) deixa absolutamente explícito que existe uma entidade chamada de “Corpo do Messias.” Mas o que será esse corpo? Uma outra carta de Rav. Sha'ul (Paulo), aos romanos, deixa bem claro o que é o Corpo: “E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado no lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás então: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu pela tua fé estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme; porque, se Elohim não poupou os ramos naturais, não te poupará a ti. Considera pois a bondade e a severidade de Elohim: para com os que caíram, severidade; para contigo, a bondade de Elohim, se permaneceres nessa bondade; do contrário também tu serás cortado. E ainda eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Elohim para os enxertar novamente. Pois se tu foste cortado do natural zambujeiro, e contra a natureza enxertado em oliveira legítima, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira esses que são ramos naturais! Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos goyim haja entrado; e assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Tsion o Libertador, e desviará de Ya'akov as impiedades;” (Rm. 11:17-26) Reparem que Rav. Sha'ul (Paulo) fala do povo de Elohim. Contudo, não fala da existência de uma nova entidade distinta, mas sim do fato de que o Corpo/Oliveira teve alguns de seus ramos naturais (a saber: boa parte da Casa de Yehudá) temporariamente cortados para que fossem enxertados os ramos bravos. Não há aqui menção a dois corpos. Inclusive, Rav. Sha'ul (Paulo) encerra com essa idéia, pois o Libertador veio para desviar as impiedades de Ya'akov (Israel). O Corpo do Messias, portanto, é Israel. 3 – O Primogênito Mas será que encontramos essa idéia também em outros trechos bíblicos? Certamente! Um dos trechos é Matitiyahu (Mateus) 2:14-15, que diz: “Levantou-se, pois, tomou de noite o menino e sua mãe, e partiu para o Egito.E lá ficou até a morte de Herod, para que se cumprisse o que fora dito da parte de YHWH pelo profeta: Do Egito chamei o meu Filho.” Matitiyahu (Mateus) fez, que foi nada menos do que uma utilização brilhante das técnicas rabínicas de estudo das Escrituras. Matitiyahu (Mateus) montou uma alegoria baseada nos níveis "Remez" e "Drash" de interpretação das Escrituras. (Vide artigo sobre como interpretar as Escrituras como um judeu.) Primeiramente, ele usa o nível "Remez" para dar um indício de que há algo mais profundo na semelhança entre o Mashiach (citado no texto dele) e Israel (citado em Hoshea/Oséias). A chave primária para entendermos o "Remez" é a palavra "filho". Matitiyahu (Mateus) indica que há algo de semelhante na filiação do Mashiach e na filiação de Israel, e a chave secundária é o Egito. Quando fazemos uma busca por estas duas chaves, a primeira passagem que encontramos na Torá associada aos dois é: "... quando você voltar ao Egito... diga ao faraó: Israel é o meu primogênito" (Shemot/Êxodo 4:21-22, abreviado para facilitar nossa leitura) Podemos concluir que é este verso que Matitiyahu (Mateus) nos expõe. É aí que entra o nosso "Drash". Aqui, a Torá chama a Israel de "Primogênito de YHWH". Atribuindo esta definição ao Mashiach, Matitiyahu (Mateus) usa o texto de Hoshea (Oséias) para nos expor que, profeticamente, Yeshua é o Primogênito de YHWH. Em suma, Matitiyahu (Mateus) viu e apontou para um elemento que vários rabinos sempre indicam: por diversas vezes, os passos de Israel e dos patriarcas representam profeticamente os passos do Mashiach. Logo, como assim como YHWH fez sair Israel do deserto, também o estava fazendo com seu Primogênito. Ora, se Israel é o primogênito de YHWH, e Yeshua também o é, ou a Bíblia cometeu uma gafe (o que é impossível) ou então está nos revelando algo muito profundo: O Corpo do Messias é Israel. Outra passagem interessante é a de Yehudá (Judas) 1:9, que diz: “Mas quando Micha'el, chefe dos anjos, discutindo com o Acusador, disputava a respeito do corpo de Moshe, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: O Senhor te repreenda.” Aqui vemos um Corpo (Israel) sendo chamado de Corpo de Moshe (Moisés). Ora, essa passagem se refere claramente a Israel. Contudo, pelos próprios escritos de Romanos, vemos que não há 2 Corpos. Se não há dois corpos, então podemos concluir com segurança que o Corpo de Moshe = Corpo do Messias. 4 -Quem é o Corpo de Moshe? É a Assembléia que se com Ya'akov Avinu (Jacó, nosso Pai). Freqüentemente no Tanach, Israel é chamado de “A Assembléia de Israel”. Curiosamente, na Septiaginta, o termo “Assembléia” aparece como Ekklesia, que é justamente o termo que os cristãos traduzem por “Igreja”. E mais, em Ivrim (Hebreus) 12:23 chama o Corpo do Messias de “a Assembléia do Primogênito”. Ora, mas também vemos na Torá, em Ex. 4:22: “...Assim diz YHWH: Israel é meu filho, meu primogênito;“ Logo, a Assembléia do Primogênito é Israel. Portanto, o Corpo do Messias é Israel. 5 – Sobre esta pedra... Mas então, o que dizer da passagem abaixo? “Pois também eu te digo que tu és Kefá, e sobre esta pedra edificarei a minha Kehilá, e as portas do Tach'ti não prevalecerão contra ela;” (Mt. 16:18) Aqui dá a impressão de que o Messias começaria uma Nova Kehilá. Certo? Errado! Não há nada na Bíblia que indique que o Messias faria tal coisa. E mais, como vimos, o próprio NT fala de apenas 1 Corpo. Ora, se há apenas 1 Corpo, e se Israel não foi rejeitado (vide Rm. 11), então que Corpo é esse? Israel, é claro! Mas então como entender a passagem de Mt. 16:18? A própria Bíblia explica, em Amos 9:11 vemos a seguinte promessa feita por YHWH: “Naquele dia tornarei a levantar o tabernáculo de David, que está caído, e repararei as suas brechas, e tornarei a levantar as suas ruínas, e as reedificarei como nos dias antigos; “ Ou seja, o Messias está dizendo que é a partir dEle que se reergueria o tabernáculo de David. É a restauração de Israel que começa em Yeshua, e não um novo corpo! Mas como saber se essa é a interpretação correta? Ora, quem mais qualificado para responder do que o próprio Shimon Kefa (Simão Pedro), a quem Yeshua direcionou a passagem de Mt. 16:18? E vejam o que ele diz: “Depois destas [coisas] voltarei, e reedificarei o tabernáculo de David, que está caído; reedificarei as suas ruínas, e tornarei a levantá-lo;” (At. 15:16) 6 – A Nova Aliança Para encerrar, e mostrar de vez que não existe um novo corpo, e que o Corpo do Messias é Israel, olhemos para os termos da Nova Aliança. Afinal, o Corpo do Messias é aquele que toma parte da Nova Aliança. Mas o que YHWH diz sobre a Nova Aliança: “Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma Nova Aliança com a casa de Israel e com a casa de Yehudá,” (Jr. 31:31) Ora, aqui está bem claro. O Corpo do Messias, o povo da Nova Aliança, é o próprio Israel! Não é à toa que a única saída teológica do Cristianismo para que toda a sua teologia não rua feito um castelo de cartas é a odiosa teologia da substituição, em que um corpo “substitui” a Israel nas promessas de YHWH. O problema é que não há base bíblica alguma para dizer tal coisa, especialmente porque a restauração de Israel é prometida pelos profetas. Até aqui, os neo-ebionitas também, no geral, concordam conosco. Porém, não percebem a enrascada teológica em que se colocam ao admitirem que o supracitado é verdadeiro. É aqui que, para eles, o problema começa: 7 -A Noiva Ao ser perguntado se ele era o Messias, Yochanan o Imersor (João Batista) diz o seguinte: “Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, alegra-se com grande júbilo com a voz do noivo. Assim, pois, esta minha alegria está completa.” (Jo. 3:29) Ora, ele menciona a existência de um noivo e de uma noiva. Não é difícil chegarmos à conclusão de que o noivo é Yeshua (isso é explícito pela frase de Yochanan), e que a noiva é o Corpo do Messias. Em Guilyana (Apocalipse), encontramos: “E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das sete últimas pragas, e falou comigo, dizendo: Vem, eu te mostrarei a noiva, a esposa do Cordeiro.” (Ap. 21:9) O texto continua mostrando Yerushalayim (tipificando Israel) como a noiva do cordeiro. Ora, Yerushalayim é chamada de cidade de YHWH e de Sião em Is. 60:13. Não é difícil de mostrar, e é fato bem conhecido, que Yerushalayim/Sião tipificam Israel. Apenas para título de ilustração, vejamos o Sl. 74:2: “Lembra-te da tua congregação, que compraste desde a antiguidade; da vara da tua herança, que remiste; deste monte Sião, em que habitaste.” Ora, o próprio texto de Guilyana (Apocalipse) já nos diz quem é o noivo – fato esse que também fora dito por Yochanan, o Imersor – como vimos anteriormente. Acontece, que Israel é casada com YHWH. Apesar de YHWH tê-la repudiado temporariamente, vejamos o que diz Hoshea (Oséias) 2:19-20 acerca de Israel: “E desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás a YHWH.” YHWH irá casar-se novamente com Israel! 8 – A Única Conclusão Possível Aqui, a doutrina ebionita/ariana cai completamente por terra. O Corpo do Messias é a Noiva O Messias é o Noivo O Corpo do Messias é a Assembléia do Primogênito Israel é o Corpo e o Primogênito Logo, Israel é a Noiva Mas Israel é a Noiva de YHWH Portanto, o Messias é YHWH. Fica escandalosamente claro aqui. 9 – Quem é Maldito? Agora vejam o problema que acontece se partirmos de pressupostos diferentes. Os neo-ebionitas (que se dizem messiânicos) costumam chegar até o ponto de que o Corpo é Israel. Ora, se isso é verdade, então Yeshua é culpado pela Torá de um pecado gravíssimo, que é desposar a esposa de seu Pai!!! Vejam o que diz a Torá sobre isso: “Maldito aquele que se deitar com a mulher de seu pai, porquanto descobriu a nudez de seu pai. E todo o povo dirá: Amém.” (Dt. 27:20) Os neo-ebionitas fazem de Yeshua maldito, sem perceberem! Mas, vamos então partir do pressuposto de que haja de fato 2 Corpos, 2 esposas. Vamos imaginar por um minuto (apesar de, como vimos, a Bíblia dizer o contrário) que de fato são dois casamentos distintos. Perguntamos então: como ficariam os judeus crentes no Messias? Poderiam desposar 2 maridos??? Sim, porque fazem parte de Israel e também fariam parte de um “Corpo do Messias”, se o mesmo fosse separado de Israel. Se o Corpo do Messias for parte de Israel, ou vice-versa, incorremos no mesmo erro: ou fazemos de Yeshua um adúltero, ou fazemos dos judeus crentes adúlteros. O resultado é o mesmo: maldição. 10 – Harmonizando as Escrituras A única forma de harmonizarmos as Escrituras é admitirmos aquilo que fica bem claro: Yeshua é YHWH feito carne. Não há 2 Corpos, mas sim 1 Corpo, Israel. Não há dois salvadores, mas sim 1 salvador, YHWH feito carne. Não há dois senhores, mas sim 1 Adonai, não há dois noivos, mas sim o mesmo esposo de sempre. “Há um só corpo e uma só Ruach, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só YHWH, uma só fé, um só mikveh;” (Efésios 4:4)

A verdade sobre a Torah

A verdade sobre a Torah - analisando posições extremistas Depois de quase dois mil anos de trevas e jugo romano, nós israelitas restaurados ainda temos dificuldades naturais em nosso relacionamento com a Torah. Ninguém pode supor que, depois de despertar de um torpor tão longo, o observar a Torah seja tarefa extremamente fácil e trivial. Principalmente, considerando-se que o Judaísmo normativo, embora tenha preservado boa parte da observância à Torah, também trouxe a ela um jugo de costumes e normas humanas (algumas até mesmo de origem pagã) que não faziam parte originalmente da fé que nos foi ensinada por Moshe Rabeinu. Por razão disto, duas posições extremistas extremamente perigosas têm surgido em nosso meio. A primeira é a de que somente o que a Torah diz é válido como regra de comportamento. A segunda alega que, além da Torah escrita, existe uma suposta “Torah Oral”. Este estudo pretende refutar essas duas posições, em defesa da verdade não apenas da Torah, como de todas as Escrituras. Primeira Posição Extremista: Só a Torah é Válida Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis as mitsvot de YHWH vosso Elohim, que eu vos mando. (Devarim/Deuteronômio 4:2) É possível para muitos de nós rapidamente termos a percepção de que a Torah é o fundamento da nossa fé. Nela, estão descritas nossa identidade, nossa história, nossas transgressões, e as promessas de YHWH para nós. Inclusive, a promessa de que YHWH pagaria pelos nossos pecados (Gn. 15:8-17) e de que deveríamos dar ouvidos à voz de Melech HaMashiach (Dt. 18:15). Contudo, alguns têm tomado essa posição a um extremismo, dizendo o seguinte: “Se não está na Torah, então determinado ato ou atitude não é pecado” ou “não é da vontade de YHWH”. Essa posição se baseia justamente no primeiro texto citado, de Devarim 4:2, que determina que Yisra'el não deveria fazer qualquer acréscimo ou diminuição da Torah. Tais pessoas chegam ao absurdo de dizer que Yeshua não poderia ter nos ensinado nada de novo acerca da vontade de YHWH, pois a Sua vontade estaria totalmente expressa na Torah. Ora, convém perguntar a tais pessoas por que Yeshua perdeu cerca de três anos de sua vida ensinando o povo, ao invés de ir direto ao madeiro. O fato é que a Torah contém a essência expressa da moral e da vontade de YHWH, indubitavelmente. Como tal, ela serve como parâmetro para verificarmos se algo está ou não de acordo com a vontade dEle. É por isso, por exemplo, que rejeitamos a interpretação anti-nomínia dada pelo Cristianismo aos escritos de Sha'ul (Paulo), pois vai totalmente contra aquilo que YHWH nos revelou nos primórdios. Se uma determinada vertente de interpretação das Escrituras fere frontalmente a Torah, então podemos ter a certeza e a convicção de que essa não é a interpretação correta da Palavra de YHWH. Todavia, isso não quer dizer que absolutamente tudo o que YHWH desejasse nos dizer esteja declarado de forma literal na Torah. Caso contrário, não haveria qualquer necessidade de outros textos bíblicos. E, hoje em dia, não existe nenhum grupo religioso que creia que apenas os Cinco primeiros livros da Bíblia sejam inspirados. O mais próximo disso são os samaritanos, que só aceitam, do Tanach, a porção da Torah. Contudo, até mesmo eles têm livros adicionais em suas escrituras. Isso significa que em Yisra'el nunca houve quem entendesse que a Torah almejava ser a totalidade da revelação de YHWH para nosso povo. Até porque, se somos um povo conduzido por YHWH, então isto significa que YHWH se revela a nós de forma contínua e constante. A Torah sempre foi, ou pelo menos sempre deveria ter sido, o parâmetro principal, para verificarmos se uma palavra dada por um navi (profeta) estava de acordo com a vontade de YHWH. E assim o é até os dias de hoje. Algumas pessoas, contudo, tomam o passuk (versículo) mencionado no início deste estudo como uma declaração literal de que nada mais possa ser revelado da vontade de YHWH. O curioso é que normalmente isto é mais utilizado para defender comportamentos moralmente estranhos, uma vez que a Torah se cala a respeito deles. Não é à toa que Yeshua nos recomenda olharmos os frutos. Se analisarmos essa questão, podemos perceber que quase sempre o que se tem é uma tentativa de servir a carne, ou de justificar um comportamento negativo. Um Princípio Essênio Recentemente, por exemplo, um líder alegou que a poligamia e o sexo entre duas mulheres não eram pecado, pois a Torah nada diz a respeito. Contudo, sabemos que Yeshua diz: Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? (Matitiyahu 19:4-5) Yeshua se refere a um princípio que os essênios chamavam de Yessod HaBeriá, ou “Fundação da Criação” _ isto significa que quando YHWH criou todas as coisas no Gan Eden, estabeleceu as condições ideais de existência. Assim sendo, tudo aquilo que foge dessas condições é em decorrência da transgressão humana. Assim sendo, a princípio, YHWH criou o homem e a mulher para formarem uma só carne, um único casal. Lembremo-nos que Yeshua também deixa claro em Matitiyahu (Mateus) 19 que nem tudo o que a Torah permitiu foi por vontade de YHWH. Isso é fácil de entendermos. Por exemplo, a Torah contempla sacrifícios pelo pecado. Contudo, a vontade de YHWH é que nunca tais sacrifícios ocorram. Como assim? É simples: YHWH não pode desejar que o homem peque! A Torah apenas prevê tal situação por conta da transgressão. Mas, temos que nos esforçarmos para não agirmos segundo os impulsos da carne. Para maiores informações, vide nosso material sobre poligamia. Com relação ao homossexualismo feminino, a Torah não se pronuncia, porque naquela época, em uma sociedade patriarcal onde as mulheres se casavam muito cedo e permaneciam na casa de seus esposos, tal prática era incomum. Contudo, Sha'ul (Paulo) nos revela qual a vontade de YHWH: Por isso Elohim os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. (Ruhomayah/Romanos 1:26-27) Semelhantemente, aqui Sha'ul (Paulo) também aplica o princípio essênio de Yessod HaBeriá (Fundação da Criação): No princípio, Elohim não criou as mulheres para se inflamarem sensualmente umas com as outras. Qualquer coisa que fira o princípio e a ordem natural criada por Elohim é, por definição, uma transgressão à mitsvá (mandamento) de Elohim! E, no entanto, esse líder diz que é lícito, porque a Torah nada fala a respeito. Ora, mas Torah nada fala a respeito, porque a Torah é um princípio estabelecido, e não uma enciclopédia de todas as possíveis e imagináveis transgressões e depravações comportamentais que o ser humano seja capaz de inventar. A Torah, por exemplo, nada fala contra inalarmos cocaína. Por causa disso, é lícito? É por isso que YHWH nos deu a Ruach HaKodesh: E porei dentro de vós a minha Ruach, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis. (Yechezkel/Ezequiel 36:27) Será que realmente podemos dizer que o passuk (versículo) de Devarim 4:2 questão se refere ao fato de que tudo o que YHWH quis dizer está no Pentateuco e que, fora do Pentateuco, nada é pecado? Analisemos o passuk (versículo) em questão e verifiquemos o que ele diz: Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis as mitsvot de YHWH vosso Elohim, que eu vos mando. A frase diz, essencialmente, que aquilo que YHWH nosso Elohim nos diz não deve ser distorcido: nem para mais, nem para menos. Repare que algumas pessoas entendem algo que a Torah NÃO diz: Que YHWH não daria qualquer outra palavra. A mitsvá (mandamento) é clara: Não distorça o que YHWH diz. Mas a mitsvá (mandamento) não amordaçou YHWH de modo que nada mais pudesse ser dito. Existem duas formas de entender esse passuk (versículo.) Uma delas é a de que ele se refira a um princípio geral de que não devemos distorcer o que YHWH nos ensina. Outro é o de que esta tenha sido uma forma de “selar” o livro da Torah, isto é, a partir daquele ponto, nada mais poderia ser dito ou ensinado acerca da vontade de YHWH, ou acerca do que são as mitsvot (mandamentos.) A segunda interpretação traz grandes problemas para seus propositores, os quais vamos listar aqui: Problema #1 – Cortar Devarim O primeiro problema que podemos perceber é o de que esse texto é dito em Devarim (Deuteronômio) 4, e nele, a totalidade da Torah não havia sido dada ainda. Se o texto for entendido como uma forma de sacramentar que, a partir daquele ponto, YHWH não daria mais qualquer ordem a Yisra'el, então a Torah deveria ser encerrada em Devarim 4. Tudo o que está além de Devarim 4 deveria ser ignorado, pois não faz parte da Torah. Contudo, isso gera um enorme problema: E Yeshua respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Shemá Yisra'el, YHWH Eloheinu, YHWH Echad. Amarás, pois, a YHWH teu Elohim de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. (Marcus 12:29-30) Ora, tanto Yeshua quanto o próprio Judaísmo normativo concordam que o Sh'má é talvez a mitsvá (mandamento) mais importante de todas, a partir do qual todo o restante da Torah deriva. Afinal, trata-se da declaração de que Yisra'el tem apenas 1 Senhor, a quem devemos todo amor e devoção. Porém, o Sh'má só aparece em Devarim (Deuteronômio) 6! Ou seja, se acharmos que Devarim 4 sacramenta a totalidade das palavras de YHWH, então o Sh'má fica de fora da Torah! Problema #2 – O Caso de Hizkiyahu (Ezequias) Em Divrei HaYamim Beit (2 Crônicas) cap. 29, lemos a narrativa de Hizkiyahu (Ezequias), que era reto aos olhos de YHWH e andava segundo os caminhos de David (2 Cr. 29:2) Hizkiyahu (Ezequias) tinha em seu coração o desejo de fazer regressar o povo a YHWH. A primeira coisa que ele ordena é que os Levi'im (levitas) purifiquem-se e purifiquem o Beit HaMikdash (Templo), removendo do mesmo toda a imundícia de adoração aos ídolos: E lhes disse: Ouvi-me, ó levi'im, tornai-vos k'doshim agora, e tornai kadosh a casa de YHWH nosso Elohim de vossos pais, e tirai do Kodesh a imundícia. Porque nossos pais transgrediram, e fizeram o que era mau aos olhos de YHWH nosso Elohim, e o deixaram, e desviaram os seus rostos do Mishkan de YHWH, e lhe deram as costas. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 29:5) O problema disso é que a limpeza acabou ao décimo-sexto dia, e com isso, a festa de Pessach já havia passado: Começaram, pois, a tornar kadosh no primeiro dia, do primeiro mês; e ao oitavo dia do mês vieram ao alpendre de YHWH, e santificaram a casa de YHWH em oito dias; e no dia décimo sexto do primeiro mês acabaram. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 29:17) Outro problema: Não havia cohanim (sacerdotes) suficientes para dar conta de todo o povo. Então, o que fazem? Os levi'im (levitas) ajudam a sacrificar os animais: Eram, porém, os cohanim mui poucos, e não podiam esfolar a todos os holocaustos; pelo que seus irmãos os levi'im os ajudaram, até a obra se acabar, e até que os outros cohanim se tornaram k'doshim; porque os levi'im foram mais retos de coração, para se tornarem k'doshim, do que os cohanim. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 29:34) Ora, se formos pelo raciocínio dos que acham que Devarim 4 sacramentou a totalidade das palavras de YHWH, então aqui vemos que Hizkiyahu (Ezequias) e os levi'im (levitas) cometeram grande transgressão. Afinal, os levi'im não poderiam, segundo a Torah, oferecer sacrifícios. Somente os filhos de Aharon poderiam fazer isso. A função dos levi'im era apenas a de servir os cohanim (sacerdotes) e não de realizar o trabalho deles: Então disse YHWh a Aharon: Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai contigo, levareis sobre vós a iniqüidade do Mikdash; e tu e teus filhos contigo levareis sobre vós a iniqüidade da vossa kehuná. E também farás chegar contigo a teus irmãos, a tribo de Levi, a tribo de teu pai, para que se ajuntem a ti, e te sirvam; mas tu e teus filhos contigo estareis perante a tenda do testemunho. (Bamidbar/ Números 18:1-2) No entanto, se entendermos que esta era uma situação especial, e que eles buscaram a voz de YHWH, que deu uma instrução temporária para que a questão se normalizasse, então não há qualquer problema em aceitarmos o texto acima. Afinal, a Torah fala de uma situação ideal. Quando a Torah prescreve que os cohanim (sacerdotes) b'nei Aharon (filhos de Aarão) fariam os sacrifícios por todo o povo, evidentemente estava partindo de uma premissa: Os b'nei Aharon (filhos de Aarão) estariam todos disponíveis para realizar este serviço, pois seguiriam as palavras da Torah para se tornarem k'doshim (santos) ao serviço a YHWH. Contudo, aqui isto não ocorreu. Devido à transgressão, não havia cohanim (sacerdotes) suficientes. Então, YHWH dá uma determinação específica para aquela situação, uma determinação que jamais esteve explicitada na Torah! Mas, a coisa não pára por aí. Sigamos na história. Como a situação no Beit HaMikdash (Templo) só se regularizou a partir do décimo sexto mês, o que fez Hizkiyahu (Ezequias): convocou o povo para celebrar o Pessach no segundo mês: Depois disto Hizkiyahu enviou mensageiros por todo Yisra'el e Yehudá, e escreveu também cartas a Efrayim e a Menashe para que viessem à casa de YHWH em Yerushalayim, para celebrarem o Pessach a YHWH Elohim de Yisra'el. Porque o rei tivera conselho com os seus príncipes, e com toda a congregação em Yerushalayim, para celebrarem o Pessach no segundo mês. Porquanto não a puderam celebrar no tempo próprio, porque não se tinham tornado k'doshim cohanim em número suficiente, e o povo não se tinha ajuntado em Yerushalayim. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 30:1-3) Ora, se formos pelo raciocínio dos que acham que Devarim 4 sacramentou e selou tudo o que YHWH poderia ter a dizer, Hizkiyahu (Ezequias) e o povo teriam cometido um pecado enorme, visto que o Pessach Sheni, a “segunda páscoa”, não foi dada com esse objetivo. Vejamos o que a Torah diz: Então falou YHWH a Moshe, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando alguém entre vós, ou entre as vossas gerações, for imundo por tocar corpo morto, ou achar-se em jornada longe de vós, contudo ainda celebrará o Pessach a YHWH. No mês segundo, no dia catorze à tarde, a celebrarão; com pães ázimos e ervas amargas a comerão. (Bamidbar/Números 9:9-11) Ora, repare aqui que o Pessach Sheni (Segundo Pessach) foi concedido por YHWH para duas situações: Pessoas que estivessem cerimonialmente impuras por contato com morto; Pessoas que estivessem em viagem; E só. O caso aqui de Hizkiyahu (Ezequias) era completamente diferente. Os motivos que levaram Hizkiyahu (Ezequias) a celebrar o Pessach Sheni no lugar do Pessach foram: O Mikdash só ficou totalmente kadosh no décimo-sexto dia; Não havia cohanim k'doshim suficientes para o abate do corban Pessach; O povo não havia se reunido em Yerushalayim; Pelo raciocínio dos que selam as palavras de YHWH através de Devarim 4 podemos concluir que eles cometeram pecado, pois teriam distorcido o propósito do Pessach Sheni. No entanto, podemos entender que a Torah nada dizia acerca de uma situação como a que Hizkiyahu (Ezequias) estava vivendo. Assim sendo, ele procurou de YHWH a orientação sobre o que fazer. Mas os problemas não param por aí. O povo não celebrou o Pessach Sheni apenas, mas também Chag HaMatsot (a Festa dos Pães Ázimos), conforme lemos: E ajuntou-se em Yerushalayim muito povo, para celebrar a festa dos pães ázimos, no segundo mês; uma congregação mui grande... E, tendo toda a congregação conselho para celebrarem outros sete dias, celebraram ainda sete dias com alegria. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 30:13,23) Repare que a Torah não diz que devemos celebrar Chag HaMatsot no segundo mês. Aqueles que perderam o Pessach, no relato supracitado, celebrariam apenas o Pessach Sheni. Contudo, isso ocorreu nos tempos de Hizkiyahu. Novamente, se formos radicais em afirmarmos que YHWH nada poderia ter dado de orientação após Devarim 4, então teremos que entender que houve grave pecado. Contudo, o que vemos é que a situação era totalmente atípica, e YHWH honrou a kavaná (intenção do coração) do povo e deu uma recomendação alternativa. Problema #3 – Contradição Direta A história de Hizkiyahu (Ezequias) se encerra com algo que contradiz diretamente a interpretação que temos comentado, pois muito mais do que apenas uma misericórdia de YHWH em aceitar “o melhor que eles poderiam fazer”, a história nos diz que YHWH deu uma mitsvá (mandamento) para que fosse feito daquela forma: E a mão de Elohim esteve com Yehudá, dando-lhes um só coração, para fazerem o mandado do rei e dos príncipes, conforme a Palavra de YHWH. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 30:12) O Cerne da Questão O cerne do problema descrito em Devarim 4 está em: Não levar em consideração as palavras de YHWH; Fazer acréscimos ao que YHWH diz; Remover do que YHWH diz; Três exemplos de posições históricas podem ser vistas como algo que fere a essa recomendação: A posição cristã de que a Torah foi abolida desmerece as palavras de YHWH e, portanto, contradiz Deverim 4; As leis de cerca do Judaísmo normativo, como por exemplo, não comer carne com leite (compare com Dt. 14:21) As exceções do Judaísmo normativo. Por exemplo, YHWH diz que devemos remover todo o fermento de nossos lares em Chag haMatsot (Ex. 12:15), mas o Judaísmo normativo diz que é lícito guardar o fermento em casa, desde que seja trancado num armário, e seja feito um documento vendendo o fermento para um estrangeiro durante Chag haMatsot e automaticamente o recomprando após Chag haMatsot. É justamente contra esse tipo de situação que Moshe alerta o povo, quando diz que as palavras de YHWH são inalteráveis. Como vimos pelos exemplos de Hizkiyahu (Ezequias), em momento algum Moshe diz que YHWH não poderia dar novas orientações ao povo. A Torah dá as cartas A verdade é que a própria Torah já nos ensina como devemos agir. Primeiramente, a Torah legitima a existência de profetas: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, YHWH, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. (Bamidbar/Números 12:6) Evidentemente que o teste sempre foi a Torah. Mas foi justamente dessa forma que o povo de Yisra'el pôde reconhecer que Escrituras ilustravam a vontade de YHWH. Sha'ul (Paulo) nos diz com clareza: Toda a Escritura é inspirada por Elohim, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; (Timoteus Beit/2 Timóteo 3:16) Não somente as Escrituras são inspiradas por YHWH, como também são proveitosas para instruir em justiça. Assim sendo, quando lemos uma Escritura que prescreve um dado comportamento, nossa posição jamais deve ser a de dizer que “não está na Torah”, afinal a própria Torah nos alerta que haveria profetas para nos revelarem a vontade de Elohim. Segunda Posição Extremista: Torah Oral? Podemos dizer, então, como dizem os judeus normativos, que existe uma Torah Oral? Certamente que não. O fato é que tudo aquilo que YHWH deu ao povo de Yisra'el foi descrito, segundo o próprio Yeshua, “na Torah e nos profetas”. Como vimos, para verificarmos se algo é verdadeiro, devemos utilizar a Torah como parâmetro. Para considerarmos a hipótese de uma Torah Oral, tal hipótese precisa ser possível mediante a Torah escrita. Vejamos se isso é possível. O Judaísmo Parush (farisaico), que posteriormente se transformou no Judaísmo normativo, alega que juntamente com o texto escrito da Torah, foi entregue uma “Torah Oral” a Moshe. Essa suposta “Torah Oral” teria sido passada de Moshe aos sábios, e preservada de geração em geração. Existem evidências históricas contrárias a isso, como, por exemplo, o próprio testemunho de Flavio Josefo (vide nossa palestra sobre o NT e a Lei.) Contudo, antes sequer considerarmos tal análise, é preciso verificar se a própria Torah “escrita” dá margem para isso. A questão é bem simples: Existe algo na Torah escrita que afirme que NÃO há uma Torah Oral? Ou existe algo que afirme que há? Ou, na ausência de um texto claro, há algum indício que possa levar à hipótese de uma Torah oral? A resposta para a maior parte dessas perguntas é “não.” Contudo, para uma delas, a resposta é “sim”. Vejamos exatamente o que diz a Torah. A primeira evidência aparece em Shemot (Êxodo) 24:12: Então disse YHWH a Moshe: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a Torah, e as mitsvot que tenho escrito, para os ensinar. Aqui vemos que tudo o que YHWH deu a Moshe foi escrito. Mas há mais: E Moshe escreveu esta Torah, e a deu aos cohanim, filhos de Levi, que levavam a arca da aliança de YHWH, e a todos os anciãos de Yisra'el. E ordenou-lhes Moshe, dizendo: Ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa de Sukkot, quando todo o Yisra'el vier a comparecer perante YHWH teu Elohim, no lugar que ele escolher, lerás esta Torah diante de todo Yisra'el aos seus ouvidos. Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam a YHWH vosso Elohim, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta Torah; E que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer a YHWH vosso Elohim, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Yarden, para a possuir. (Devarim/Deuteronômio 31:10-13) Novamente, vemos que aquilo que deveria ser ensinado ao povo era lido da Torah, e não transmitido via tradição oral. Mas será que há algo na Torah que diga que TUDO o que YHWH disse a Moshe, ele escreveu? A resposta é sim. Repare na instrução que Moshe deixa aos seus sucessores: E, havendo-o passado, escreverás nelas todas as palavras desta Torah, para entrares na terra que te der YHWH teu Elohim, terra que mana leite e mel, como te falou o YHWH Elohim de teus pais. (Devarim/Deuteronômio 27:3) Para sacramentar a questão, existe ainda o testemunho de Yahushua (Josué), sucessor de Moshe, que diz com total clareza que tudo o que Moshe deixou foi escrito: E depois leu em alta voz todas as palavras da Torah, a bênção e a maldição, conforme a tudo o que está escrito no livro da lei. Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moshe ordenara, que Yahushua não lesse perante toda a congregação de Yisra'el, e as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles. (Yahushua/Josué 8:34-35) Portanto, podemos concluir com clareza que a Torah Oral é um acréscimo diabólico à Torah e que viola sim as determinações de Devarim (Deuteronômio) 4. Conclusão Como podemos perceber ambas as posições são equivocadas. YHWH deixou para Yisra'el não somente a Torah, como todo um conjunto de Escrituras, das quais a Torah é base de tudo. Além disso, podemos ver que Moshe não deixou qualquer conjunto de tradições orais, como complemento da Torah. Assim sendo, a Torah pura de YHWH não está isolada, pois é fundação para toda a Palavra, mas também não precisa de qualquer acréscimo, pois, como diz o salmista: A Torah de YHWH é perfeita, e refrigera a alma. (Tehilim/Salmos 19:7)

O que é nascer de novo?

O que é nascer de novo? Recentemente observei grande discussão a respeito da questão do “novo nascimento”, e do diálogo entre Yeshua e Nakdimon (Nicodemos). Resolvi, portanto, fazer este pequeno estudo. Essa é uma das expressões onde o Cristianismo faz a maior salada, sem necessidade, e devido simplesmente a ignorar por completo o contexto judaico das Escrituras. O “novo nascimento” se tornou para o Cristianismo praticamente um momento místico onde a pessoa “se converte” à nova religião, ou crê que foi “regenerada”, ou “salva”. Mas será que é isso que Yeshua veio ensinar? O estudo bíblico mais aprofundado mostra claramente que Yeshua não inventou nada. Ele veio legitimar tudo aquilo que YHWH já havia dito, veio corrigir distorções de interpretação e prática dentro do Judaísmo. E veio viver profeticamente toda a plenitude da revelação do plano de YHWH, descrito no Tanach. Isto posto, vamos analisar a questão entre Nakdimon (Nicodemos) e Yeshua. Temos o seguinte diálogo entre os dois: Respondeu-lhe Yeshua: Amen, Amen e Eu te digo que alguém que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Elohim. Perguntou-lhe Nakdimon: Como pode um homem nascer, sendo velho? Por acaso pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Amen, Amen, e Eu te digo que se alguém não nascer da água e da Ruach, não pode entrar no Reino de Elohim. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido da Ruach é espírito. Não te admires de Eu haver dito: Necessário vos é nascer de novo.” (Yochanan 3:3-7) A chave para entendermos esta passagem está em duas frases... A primeira frase-chave é a última passagem da citação acima. Repare que Nakdimon (Nicodemos) não riu de Yeshua nem achou que Yeshua estava louco dizendo que ele deveria nascer de novo. Os cristãos acham logo que a questão é superficial. Mas não devemos nos esquecer de que Yeshua estava perante um rabino, argumentando com um mestre. O que teria feito um grande rabino se admirar com a resposta de Yeshua? A segunda frase-chave é a frase que Yeshua diz quando Nakdimon (Nicodemos) demonstra estar confuso. Yeshua lhe diz: “Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas?” (Yochanan 3:10) Yeshua não estava sendo sarcástico! Ele realmente esperava que Nakdimon (Nicodemos) o compreendesse. Se ele esperava isso, então isso significa que Ele estava usando conceitos com os quais Nakdimon deveria estar familiarizado. Se Yeshua estivesse ensinando este novo conceito místico certas vezes descrito nas igrejas, então é óbvio que Nakdimon (Nicodemos), por mais bem-preparado e sincero que fosse, não conheceria o conceito: a pergunta de Yeshua perderia o sentido. Fica bem claro então, pelo próprio texto, que Yeshua estava usando um conceito comum a um rabino do primeiro século. Mas que conceito seria esse? Afinal, o que Yeshuá quis dizer? A resposta está no que um rabino do 1º século entenderia por nascer de novo. É importante ressaltar que o Judaísmo do 1º século era, em alguns aspectos, muito distinto do Judaísmo atual. Uma das principais diferenças era o forte caráter proselitista do mesmo. O Judaísmo Parush (precursor do Judaísmo Ortodoxo moderno) era extremamente proselitista. Ora, Nakdimon (Nicodemos), como um rabino importante como pudemos ver anteriormente, certamente estaria familiarizado com os rituais judaicos de conversão. A questão do prosélito e o novo nascimento Para o Judaísmo Parush, e este conceito foi herdado pelo Judaísmo Ortodoxo, um gentio que se tornasse prosélito e se convertesse ao Judaísmo deveria “morrer” para a sua natureza gentílica e “renascer judeu”. O seu renascimento como judeu seria o primeiro passo para um relacionamento com o Reino do Eterno. Mas como era simbolizado este “renascimento espiritual”? Através da tevilá, isto é, da imersão nas águas do mikveh (o banho ritual) _ que posteriormente o Cristianismo passou a chamar de “batismo”. Até hoje, o conceito de que um prosélito precisa “nascer de novo nas águas” permanece no Judaísmo. Vejamos algumas evidências: O prosélito é considerado como uma criança recém-nascida... (vide Shulchan'Aruk, Yoreh De'ah, 269; 'Yad,' Issure Biah, xiv. 13)... O conceito do novo nascimento do prosélito (Yeb. 62a; Yer. Yeb. 4a) e de seu novo status com relação à sua antiga família é assunto de muitas discussões haláquicas (Yeb. xi. 2; Yer. Yeb. I.C., et al.) _ Enciclopédia Judaica (sobre 'Prosélitos') Que ato físico poderia uma pessoa realizar para simbolizar uma mudança radical de coração, um comprometimento total? Existe um sinal tão dramático, dinâmico e totalmente abrangente que poderia representar a mudança radical de um converso ao Judaísmo? ... Submergindo em um corpo de água pelo propósito não de usar as propriedades físicas de limpeza da água, mas para expressamente simbolizar uma mudança na alma é uma declaração tanto profundamente espiritual quanto imensamente inspiradora... A água do mikveh é concebida para limpar ritualmente uma pessoa dos atos do passado. O convertido é considerado pela lei judaica como sendo uma criança recém-nascida. Ao limpar espiritualmente o convertido, a água do mikveh o prepara para confrontar a o Eterno, a vida e as pessoas com um espírito renovado em com novos olhos. Ela [a água] limpa o passado, deixando somente o futuro. [Rabino Maurice Lamm]. O espanto de Nakdimon Agora podemos perceber claramente o porquê do espanto de Nakdimon (Nicodemos). Lá estava Yeshua perante um grande rabino _ possivelmente um dos maiores de Israel naquela época _ e Yeshua dizia a ele que ele precisava nascer de novo! A resposta de Nakdimon (Nicodemos) expressa este choque, e demonstra o quanto ele acreditava que sua mera condição racial o isentava na questão: Entrarei novamente no ventre da minha mãe? Ou seja, ele estava dizendo: “Ei, eu já nasci judeu! Vou então voltar ao ventre materno?!” Repare agora na última parte da citação selecionada do rabino Maurice Lamm. Veja que a imersão tinha como propósito demonstrar a disposição da pessoa a fazer teshuvá, isto é, um retorno dos seus maus caminhos. É preciso começar de novo, com uma “ficha limpa”. Daí a ideia da imersão “apagando o passado”. O que Nakdimon (Nicodemos) possivelmente não enxergava era que até mesmo um parush (fariseu), isto é, alguém super zeloso para com a Torah, poderia precisar de uma ficha limpa. A arrogância espiritual da auto-suficiência no zelo, possivelmente até despercebida, era o ponto fraco de Nakdimon (Nicodemos), ao qual Yeshua estava se referindo. Ele estava dizendo: “Até você, que se orgulha de viver na Torah, precisa se arrepender e se voltar a o Eterno!” Mas, será que o restante do contexto apoia a nossa conclusão? Nascido na água e da Ruach Em seguida, temos outra famosa frase de Yeshua em que Ele se refere ao fato de que só veremos o Reino de Elohim se nascermos da água e da Ruach (Espírito). Agora, o contraste entre água e espírito também não era nenhuma novidade para Nakdimon (Nicodemos). Vejamos o que diz Yechezkel HaNavi (o profeta Ezequiel): “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.” (Yechezkel 36:25-26) Repare que o profeta compara o novo espírito com a questão da “circuncisão do coração”, que a Torah aborda e que Sha'ul [Paulo] reforça. A circuncisão do coração nada mais é do que a kavaná, isto é, a intenção do coração. Yeshua mesmo, em outras ocasiões, confirmou o conceito de que a origem de nossos atos e, portanto, a fonte de tudo está no coração. O paralelo de Yeshua Vemos aqui então o paralelo traçado por Yeshua. Ele vai além de sugerir uma imersão a Nakdimon (Nicodemos), ele sugere ainda uma teshuvá (retorno) do coração ao Eterno. Isso para um homem orgulhoso como Nakdimon (Nicodemos) era demais, e por isso ele não conseguiu entender algo que era tão claro: que ele, judeu observante da Torah, precisava se arrepender dos seus pecados e buscar a face do Eterno tanto quanto um helenista pagão. Afinal, este era um dos principais problemas de alguns p'rushim: atos externos de aparente santidade enquanto o interior estava distante do Eterno. Re-analisando portanto o paralelo de Yeshua, vemos que Ele disse que Nakdimon (Nicodemos) precisaria nascer da água (isto é, ter uma atitude de arrependimento e almejar “começar de novo”) e do espírito (isto é, ter um coração voltado para o Eterno). Agora começa a fazer sentido todo o contexto geral. E vemos que é exatamente isso que o Eterno vem pedindo de Israel desde os primórdios da Torah. Nada mudou quanto à expectativa dEle, porque Ele não muda. Yeshua encerra dizendo que quem é “nascido da carne é carne” e quem é “da Ruach é espírito”. Ou seja, ele diz a Nakdimon claramente: Nakdimon, não estamos aqui falando de descendência física, mas sim de uma regeneração do seu interior! Reconstruindo o dialogo entre Yeshuá & Nakdimon Se fôssemos reconstruir o diálogo entre Yeshua e Nakdimon, utilizando a linguagem de hoje e mantendo a mesma ideia, o mesmo seria mais ou menos da seguinte forma: Yeshua: [c/autoridade*], Eu te digo que se você não fizer uma imersão simbolizando que está deixando para trás os seus pecados, não verá o Reino de o Eterno; Nakdimon: Imersão? Como você pode dizer isso? Eu já sou judeu de nascimento! Como vou entrar de novo no ventre da minha mãe para renascer judeu? Yeshua: [c/autoridade*], Eu te digo que se você não demonstrar exteriormente que fez teshuvá (retorno) em seu coração, não vai entrar no Reino de o Eterno. Não estou falando de ser judeu fisicamente, mas sim de ser regenerado espiritualmente. Não fique surpreso se Eu te digo que você precisa fazer teshuvá (retorno). * O uso da expressão “ “Amen, Amen” representa a grande autoridade que Yeshua demonstrava nesta ocasião. O entendimento cristão versus o entendimento do Judaismo do Caminho Segue um pequeno resumo da diferença aqui demonstrada de como um cristão, que enxerga esta passagem desconectada de seu contexto judaico, encara a questão, e como um Israelita do Caminho vê a questão. Para um cristão: Yeshua se referia a uma experiência nova; O novo nascimento é o ato de “ser salvo aceitando a Yeshua”; Nakdimon não tinha como saber do que Yeshua estava falando (e provavelmente não era muito esperto se a pergunta dele sobre voltar ao ventre foi literal); Nascer da água é ser batizado e nascer da Ruach é ser “batizado no Espírito Santo”; O novo nascimento é um fenômeno puramente de fé. Para Isrealita do Caminho: Yeshua se referia ao mesmo objetivo que o Eterno sempre teve de que todos se voltem a Ele; O novo nascimento é a teshuvá, isto é, retorno ao Eterno. O novo nascimento não é a “salvação”. A salvação é consequência do novo nascimento; Nakdimon sabia do que Yeshua estava falando, mas sua arrogância espiritual o cegava quanto à necessidade de uma pessoa “religiosa” se arrepender; “Nascer da água e do espírito” é uma figura de linguagem usada por Yeshua para expressar os dois aspectos da teshuvá: a demonstração externa (água) de um processo interno (espírito), exatamente como é no caso de um prosélito do Judaísmo; O novo nascimento envolve fé e atitude de vida Conclusão: o que é o novo nascimento Em poucas palavras, nascer de novo é estar disposto a começar com uma “ficha limpa”. Isto é: deixar para trás uma vida de pecado e distanciamento do Eterno, e abraçar a pureza original. Ou seja: voltar a desejar viver uma vida reta, no serviço dEle. Contudo, o mais importante de tudo: por amor a Ele, com o coração circuncidado, isto é, voltado para a nossa aliança com Ele. O novo nascimento não é uma experiência transcendental, nem é “um momento” ou mesmo “um ato”, e sim uma atitude de vida. Esse novo nascimento nos conduz a Yeshua HaMashiach, que nos leva à vida eterna em YHWH.

O que é Iniquidade - Anomia? O fardo dos fariseus era a “Lei de Elohim”!?

O Eterno sabia _ através da Sua Onisciência, Onipresença e Onipotência _ que o inimigo de nossas almas se utilizaria de grupos que viriam ap...