domingo, 24 de setembro de 2017

A verdade sobre a Torah

A verdade sobre a Torah - analisando posições extremistas Depois de quase dois mil anos de trevas e jugo romano, nós israelitas restaurados ainda temos dificuldades naturais em nosso relacionamento com a Torah. Ninguém pode supor que, depois de despertar de um torpor tão longo, o observar a Torah seja tarefa extremamente fácil e trivial. Principalmente, considerando-se que o Judaísmo normativo, embora tenha preservado boa parte da observância à Torah, também trouxe a ela um jugo de costumes e normas humanas (algumas até mesmo de origem pagã) que não faziam parte originalmente da fé que nos foi ensinada por Moshe Rabeinu. Por razão disto, duas posições extremistas extremamente perigosas têm surgido em nosso meio. A primeira é a de que somente o que a Torah diz é válido como regra de comportamento. A segunda alega que, além da Torah escrita, existe uma suposta “Torah Oral”. Este estudo pretende refutar essas duas posições, em defesa da verdade não apenas da Torah, como de todas as Escrituras. Primeira Posição Extremista: Só a Torah é Válida Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis as mitsvot de YHWH vosso Elohim, que eu vos mando. (Devarim/Deuteronômio 4:2) É possível para muitos de nós rapidamente termos a percepção de que a Torah é o fundamento da nossa fé. Nela, estão descritas nossa identidade, nossa história, nossas transgressões, e as promessas de YHWH para nós. Inclusive, a promessa de que YHWH pagaria pelos nossos pecados (Gn. 15:8-17) e de que deveríamos dar ouvidos à voz de Melech HaMashiach (Dt. 18:15). Contudo, alguns têm tomado essa posição a um extremismo, dizendo o seguinte: “Se não está na Torah, então determinado ato ou atitude não é pecado” ou “não é da vontade de YHWH”. Essa posição se baseia justamente no primeiro texto citado, de Devarim 4:2, que determina que Yisra'el não deveria fazer qualquer acréscimo ou diminuição da Torah. Tais pessoas chegam ao absurdo de dizer que Yeshua não poderia ter nos ensinado nada de novo acerca da vontade de YHWH, pois a Sua vontade estaria totalmente expressa na Torah. Ora, convém perguntar a tais pessoas por que Yeshua perdeu cerca de três anos de sua vida ensinando o povo, ao invés de ir direto ao madeiro. O fato é que a Torah contém a essência expressa da moral e da vontade de YHWH, indubitavelmente. Como tal, ela serve como parâmetro para verificarmos se algo está ou não de acordo com a vontade dEle. É por isso, por exemplo, que rejeitamos a interpretação anti-nomínia dada pelo Cristianismo aos escritos de Sha'ul (Paulo), pois vai totalmente contra aquilo que YHWH nos revelou nos primórdios. Se uma determinada vertente de interpretação das Escrituras fere frontalmente a Torah, então podemos ter a certeza e a convicção de que essa não é a interpretação correta da Palavra de YHWH. Todavia, isso não quer dizer que absolutamente tudo o que YHWH desejasse nos dizer esteja declarado de forma literal na Torah. Caso contrário, não haveria qualquer necessidade de outros textos bíblicos. E, hoje em dia, não existe nenhum grupo religioso que creia que apenas os Cinco primeiros livros da Bíblia sejam inspirados. O mais próximo disso são os samaritanos, que só aceitam, do Tanach, a porção da Torah. Contudo, até mesmo eles têm livros adicionais em suas escrituras. Isso significa que em Yisra'el nunca houve quem entendesse que a Torah almejava ser a totalidade da revelação de YHWH para nosso povo. Até porque, se somos um povo conduzido por YHWH, então isto significa que YHWH se revela a nós de forma contínua e constante. A Torah sempre foi, ou pelo menos sempre deveria ter sido, o parâmetro principal, para verificarmos se uma palavra dada por um navi (profeta) estava de acordo com a vontade de YHWH. E assim o é até os dias de hoje. Algumas pessoas, contudo, tomam o passuk (versículo) mencionado no início deste estudo como uma declaração literal de que nada mais possa ser revelado da vontade de YHWH. O curioso é que normalmente isto é mais utilizado para defender comportamentos moralmente estranhos, uma vez que a Torah se cala a respeito deles. Não é à toa que Yeshua nos recomenda olharmos os frutos. Se analisarmos essa questão, podemos perceber que quase sempre o que se tem é uma tentativa de servir a carne, ou de justificar um comportamento negativo. Um Princípio Essênio Recentemente, por exemplo, um líder alegou que a poligamia e o sexo entre duas mulheres não eram pecado, pois a Torah nada diz a respeito. Contudo, sabemos que Yeshua diz: Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? (Matitiyahu 19:4-5) Yeshua se refere a um princípio que os essênios chamavam de Yessod HaBeriá, ou “Fundação da Criação” _ isto significa que quando YHWH criou todas as coisas no Gan Eden, estabeleceu as condições ideais de existência. Assim sendo, tudo aquilo que foge dessas condições é em decorrência da transgressão humana. Assim sendo, a princípio, YHWH criou o homem e a mulher para formarem uma só carne, um único casal. Lembremo-nos que Yeshua também deixa claro em Matitiyahu (Mateus) 19 que nem tudo o que a Torah permitiu foi por vontade de YHWH. Isso é fácil de entendermos. Por exemplo, a Torah contempla sacrifícios pelo pecado. Contudo, a vontade de YHWH é que nunca tais sacrifícios ocorram. Como assim? É simples: YHWH não pode desejar que o homem peque! A Torah apenas prevê tal situação por conta da transgressão. Mas, temos que nos esforçarmos para não agirmos segundo os impulsos da carne. Para maiores informações, vide nosso material sobre poligamia. Com relação ao homossexualismo feminino, a Torah não se pronuncia, porque naquela época, em uma sociedade patriarcal onde as mulheres se casavam muito cedo e permaneciam na casa de seus esposos, tal prática era incomum. Contudo, Sha'ul (Paulo) nos revela qual a vontade de YHWH: Por isso Elohim os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. (Ruhomayah/Romanos 1:26-27) Semelhantemente, aqui Sha'ul (Paulo) também aplica o princípio essênio de Yessod HaBeriá (Fundação da Criação): No princípio, Elohim não criou as mulheres para se inflamarem sensualmente umas com as outras. Qualquer coisa que fira o princípio e a ordem natural criada por Elohim é, por definição, uma transgressão à mitsvá (mandamento) de Elohim! E, no entanto, esse líder diz que é lícito, porque a Torah nada fala a respeito. Ora, mas Torah nada fala a respeito, porque a Torah é um princípio estabelecido, e não uma enciclopédia de todas as possíveis e imagináveis transgressões e depravações comportamentais que o ser humano seja capaz de inventar. A Torah, por exemplo, nada fala contra inalarmos cocaína. Por causa disso, é lícito? É por isso que YHWH nos deu a Ruach HaKodesh: E porei dentro de vós a minha Ruach, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis. (Yechezkel/Ezequiel 36:27) Será que realmente podemos dizer que o passuk (versículo) de Devarim 4:2 questão se refere ao fato de que tudo o que YHWH quis dizer está no Pentateuco e que, fora do Pentateuco, nada é pecado? Analisemos o passuk (versículo) em questão e verifiquemos o que ele diz: Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis as mitsvot de YHWH vosso Elohim, que eu vos mando. A frase diz, essencialmente, que aquilo que YHWH nosso Elohim nos diz não deve ser distorcido: nem para mais, nem para menos. Repare que algumas pessoas entendem algo que a Torah NÃO diz: Que YHWH não daria qualquer outra palavra. A mitsvá (mandamento) é clara: Não distorça o que YHWH diz. Mas a mitsvá (mandamento) não amordaçou YHWH de modo que nada mais pudesse ser dito. Existem duas formas de entender esse passuk (versículo.) Uma delas é a de que ele se refira a um princípio geral de que não devemos distorcer o que YHWH nos ensina. Outro é o de que esta tenha sido uma forma de “selar” o livro da Torah, isto é, a partir daquele ponto, nada mais poderia ser dito ou ensinado acerca da vontade de YHWH, ou acerca do que são as mitsvot (mandamentos.) A segunda interpretação traz grandes problemas para seus propositores, os quais vamos listar aqui: Problema #1 – Cortar Devarim O primeiro problema que podemos perceber é o de que esse texto é dito em Devarim (Deuteronômio) 4, e nele, a totalidade da Torah não havia sido dada ainda. Se o texto for entendido como uma forma de sacramentar que, a partir daquele ponto, YHWH não daria mais qualquer ordem a Yisra'el, então a Torah deveria ser encerrada em Devarim 4. Tudo o que está além de Devarim 4 deveria ser ignorado, pois não faz parte da Torah. Contudo, isso gera um enorme problema: E Yeshua respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Shemá Yisra'el, YHWH Eloheinu, YHWH Echad. Amarás, pois, a YHWH teu Elohim de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. (Marcus 12:29-30) Ora, tanto Yeshua quanto o próprio Judaísmo normativo concordam que o Sh'má é talvez a mitsvá (mandamento) mais importante de todas, a partir do qual todo o restante da Torah deriva. Afinal, trata-se da declaração de que Yisra'el tem apenas 1 Senhor, a quem devemos todo amor e devoção. Porém, o Sh'má só aparece em Devarim (Deuteronômio) 6! Ou seja, se acharmos que Devarim 4 sacramenta a totalidade das palavras de YHWH, então o Sh'má fica de fora da Torah! Problema #2 – O Caso de Hizkiyahu (Ezequias) Em Divrei HaYamim Beit (2 Crônicas) cap. 29, lemos a narrativa de Hizkiyahu (Ezequias), que era reto aos olhos de YHWH e andava segundo os caminhos de David (2 Cr. 29:2) Hizkiyahu (Ezequias) tinha em seu coração o desejo de fazer regressar o povo a YHWH. A primeira coisa que ele ordena é que os Levi'im (levitas) purifiquem-se e purifiquem o Beit HaMikdash (Templo), removendo do mesmo toda a imundícia de adoração aos ídolos: E lhes disse: Ouvi-me, ó levi'im, tornai-vos k'doshim agora, e tornai kadosh a casa de YHWH nosso Elohim de vossos pais, e tirai do Kodesh a imundícia. Porque nossos pais transgrediram, e fizeram o que era mau aos olhos de YHWH nosso Elohim, e o deixaram, e desviaram os seus rostos do Mishkan de YHWH, e lhe deram as costas. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 29:5) O problema disso é que a limpeza acabou ao décimo-sexto dia, e com isso, a festa de Pessach já havia passado: Começaram, pois, a tornar kadosh no primeiro dia, do primeiro mês; e ao oitavo dia do mês vieram ao alpendre de YHWH, e santificaram a casa de YHWH em oito dias; e no dia décimo sexto do primeiro mês acabaram. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 29:17) Outro problema: Não havia cohanim (sacerdotes) suficientes para dar conta de todo o povo. Então, o que fazem? Os levi'im (levitas) ajudam a sacrificar os animais: Eram, porém, os cohanim mui poucos, e não podiam esfolar a todos os holocaustos; pelo que seus irmãos os levi'im os ajudaram, até a obra se acabar, e até que os outros cohanim se tornaram k'doshim; porque os levi'im foram mais retos de coração, para se tornarem k'doshim, do que os cohanim. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 29:34) Ora, se formos pelo raciocínio dos que acham que Devarim 4 sacramentou a totalidade das palavras de YHWH, então aqui vemos que Hizkiyahu (Ezequias) e os levi'im (levitas) cometeram grande transgressão. Afinal, os levi'im não poderiam, segundo a Torah, oferecer sacrifícios. Somente os filhos de Aharon poderiam fazer isso. A função dos levi'im era apenas a de servir os cohanim (sacerdotes) e não de realizar o trabalho deles: Então disse YHWh a Aharon: Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai contigo, levareis sobre vós a iniqüidade do Mikdash; e tu e teus filhos contigo levareis sobre vós a iniqüidade da vossa kehuná. E também farás chegar contigo a teus irmãos, a tribo de Levi, a tribo de teu pai, para que se ajuntem a ti, e te sirvam; mas tu e teus filhos contigo estareis perante a tenda do testemunho. (Bamidbar/ Números 18:1-2) No entanto, se entendermos que esta era uma situação especial, e que eles buscaram a voz de YHWH, que deu uma instrução temporária para que a questão se normalizasse, então não há qualquer problema em aceitarmos o texto acima. Afinal, a Torah fala de uma situação ideal. Quando a Torah prescreve que os cohanim (sacerdotes) b'nei Aharon (filhos de Aarão) fariam os sacrifícios por todo o povo, evidentemente estava partindo de uma premissa: Os b'nei Aharon (filhos de Aarão) estariam todos disponíveis para realizar este serviço, pois seguiriam as palavras da Torah para se tornarem k'doshim (santos) ao serviço a YHWH. Contudo, aqui isto não ocorreu. Devido à transgressão, não havia cohanim (sacerdotes) suficientes. Então, YHWH dá uma determinação específica para aquela situação, uma determinação que jamais esteve explicitada na Torah! Mas, a coisa não pára por aí. Sigamos na história. Como a situação no Beit HaMikdash (Templo) só se regularizou a partir do décimo sexto mês, o que fez Hizkiyahu (Ezequias): convocou o povo para celebrar o Pessach no segundo mês: Depois disto Hizkiyahu enviou mensageiros por todo Yisra'el e Yehudá, e escreveu também cartas a Efrayim e a Menashe para que viessem à casa de YHWH em Yerushalayim, para celebrarem o Pessach a YHWH Elohim de Yisra'el. Porque o rei tivera conselho com os seus príncipes, e com toda a congregação em Yerushalayim, para celebrarem o Pessach no segundo mês. Porquanto não a puderam celebrar no tempo próprio, porque não se tinham tornado k'doshim cohanim em número suficiente, e o povo não se tinha ajuntado em Yerushalayim. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 30:1-3) Ora, se formos pelo raciocínio dos que acham que Devarim 4 sacramentou e selou tudo o que YHWH poderia ter a dizer, Hizkiyahu (Ezequias) e o povo teriam cometido um pecado enorme, visto que o Pessach Sheni, a “segunda páscoa”, não foi dada com esse objetivo. Vejamos o que a Torah diz: Então falou YHWH a Moshe, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando alguém entre vós, ou entre as vossas gerações, for imundo por tocar corpo morto, ou achar-se em jornada longe de vós, contudo ainda celebrará o Pessach a YHWH. No mês segundo, no dia catorze à tarde, a celebrarão; com pães ázimos e ervas amargas a comerão. (Bamidbar/Números 9:9-11) Ora, repare aqui que o Pessach Sheni (Segundo Pessach) foi concedido por YHWH para duas situações: Pessoas que estivessem cerimonialmente impuras por contato com morto; Pessoas que estivessem em viagem; E só. O caso aqui de Hizkiyahu (Ezequias) era completamente diferente. Os motivos que levaram Hizkiyahu (Ezequias) a celebrar o Pessach Sheni no lugar do Pessach foram: O Mikdash só ficou totalmente kadosh no décimo-sexto dia; Não havia cohanim k'doshim suficientes para o abate do corban Pessach; O povo não havia se reunido em Yerushalayim; Pelo raciocínio dos que selam as palavras de YHWH através de Devarim 4 podemos concluir que eles cometeram pecado, pois teriam distorcido o propósito do Pessach Sheni. No entanto, podemos entender que a Torah nada dizia acerca de uma situação como a que Hizkiyahu (Ezequias) estava vivendo. Assim sendo, ele procurou de YHWH a orientação sobre o que fazer. Mas os problemas não param por aí. O povo não celebrou o Pessach Sheni apenas, mas também Chag HaMatsot (a Festa dos Pães Ázimos), conforme lemos: E ajuntou-se em Yerushalayim muito povo, para celebrar a festa dos pães ázimos, no segundo mês; uma congregação mui grande... E, tendo toda a congregação conselho para celebrarem outros sete dias, celebraram ainda sete dias com alegria. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 30:13,23) Repare que a Torah não diz que devemos celebrar Chag HaMatsot no segundo mês. Aqueles que perderam o Pessach, no relato supracitado, celebrariam apenas o Pessach Sheni. Contudo, isso ocorreu nos tempos de Hizkiyahu. Novamente, se formos radicais em afirmarmos que YHWH nada poderia ter dado de orientação após Devarim 4, então teremos que entender que houve grave pecado. Contudo, o que vemos é que a situação era totalmente atípica, e YHWH honrou a kavaná (intenção do coração) do povo e deu uma recomendação alternativa. Problema #3 – Contradição Direta A história de Hizkiyahu (Ezequias) se encerra com algo que contradiz diretamente a interpretação que temos comentado, pois muito mais do que apenas uma misericórdia de YHWH em aceitar “o melhor que eles poderiam fazer”, a história nos diz que YHWH deu uma mitsvá (mandamento) para que fosse feito daquela forma: E a mão de Elohim esteve com Yehudá, dando-lhes um só coração, para fazerem o mandado do rei e dos príncipes, conforme a Palavra de YHWH. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 30:12) O Cerne da Questão O cerne do problema descrito em Devarim 4 está em: Não levar em consideração as palavras de YHWH; Fazer acréscimos ao que YHWH diz; Remover do que YHWH diz; Três exemplos de posições históricas podem ser vistas como algo que fere a essa recomendação: A posição cristã de que a Torah foi abolida desmerece as palavras de YHWH e, portanto, contradiz Deverim 4; As leis de cerca do Judaísmo normativo, como por exemplo, não comer carne com leite (compare com Dt. 14:21) As exceções do Judaísmo normativo. Por exemplo, YHWH diz que devemos remover todo o fermento de nossos lares em Chag haMatsot (Ex. 12:15), mas o Judaísmo normativo diz que é lícito guardar o fermento em casa, desde que seja trancado num armário, e seja feito um documento vendendo o fermento para um estrangeiro durante Chag haMatsot e automaticamente o recomprando após Chag haMatsot. É justamente contra esse tipo de situação que Moshe alerta o povo, quando diz que as palavras de YHWH são inalteráveis. Como vimos pelos exemplos de Hizkiyahu (Ezequias), em momento algum Moshe diz que YHWH não poderia dar novas orientações ao povo. A Torah dá as cartas A verdade é que a própria Torah já nos ensina como devemos agir. Primeiramente, a Torah legitima a existência de profetas: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, YHWH, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. (Bamidbar/Números 12:6) Evidentemente que o teste sempre foi a Torah. Mas foi justamente dessa forma que o povo de Yisra'el pôde reconhecer que Escrituras ilustravam a vontade de YHWH. Sha'ul (Paulo) nos diz com clareza: Toda a Escritura é inspirada por Elohim, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; (Timoteus Beit/2 Timóteo 3:16) Não somente as Escrituras são inspiradas por YHWH, como também são proveitosas para instruir em justiça. Assim sendo, quando lemos uma Escritura que prescreve um dado comportamento, nossa posição jamais deve ser a de dizer que “não está na Torah”, afinal a própria Torah nos alerta que haveria profetas para nos revelarem a vontade de Elohim. Segunda Posição Extremista: Torah Oral? Podemos dizer, então, como dizem os judeus normativos, que existe uma Torah Oral? Certamente que não. O fato é que tudo aquilo que YHWH deu ao povo de Yisra'el foi descrito, segundo o próprio Yeshua, “na Torah e nos profetas”. Como vimos, para verificarmos se algo é verdadeiro, devemos utilizar a Torah como parâmetro. Para considerarmos a hipótese de uma Torah Oral, tal hipótese precisa ser possível mediante a Torah escrita. Vejamos se isso é possível. O Judaísmo Parush (farisaico), que posteriormente se transformou no Judaísmo normativo, alega que juntamente com o texto escrito da Torah, foi entregue uma “Torah Oral” a Moshe. Essa suposta “Torah Oral” teria sido passada de Moshe aos sábios, e preservada de geração em geração. Existem evidências históricas contrárias a isso, como, por exemplo, o próprio testemunho de Flavio Josefo (vide nossa palestra sobre o NT e a Lei.) Contudo, antes sequer considerarmos tal análise, é preciso verificar se a própria Torah “escrita” dá margem para isso. A questão é bem simples: Existe algo na Torah escrita que afirme que NÃO há uma Torah Oral? Ou existe algo que afirme que há? Ou, na ausência de um texto claro, há algum indício que possa levar à hipótese de uma Torah oral? A resposta para a maior parte dessas perguntas é “não.” Contudo, para uma delas, a resposta é “sim”. Vejamos exatamente o que diz a Torah. A primeira evidência aparece em Shemot (Êxodo) 24:12: Então disse YHWH a Moshe: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a Torah, e as mitsvot que tenho escrito, para os ensinar. Aqui vemos que tudo o que YHWH deu a Moshe foi escrito. Mas há mais: E Moshe escreveu esta Torah, e a deu aos cohanim, filhos de Levi, que levavam a arca da aliança de YHWH, e a todos os anciãos de Yisra'el. E ordenou-lhes Moshe, dizendo: Ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa de Sukkot, quando todo o Yisra'el vier a comparecer perante YHWH teu Elohim, no lugar que ele escolher, lerás esta Torah diante de todo Yisra'el aos seus ouvidos. Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam a YHWH vosso Elohim, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta Torah; E que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer a YHWH vosso Elohim, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Yarden, para a possuir. (Devarim/Deuteronômio 31:10-13) Novamente, vemos que aquilo que deveria ser ensinado ao povo era lido da Torah, e não transmitido via tradição oral. Mas será que há algo na Torah que diga que TUDO o que YHWH disse a Moshe, ele escreveu? A resposta é sim. Repare na instrução que Moshe deixa aos seus sucessores: E, havendo-o passado, escreverás nelas todas as palavras desta Torah, para entrares na terra que te der YHWH teu Elohim, terra que mana leite e mel, como te falou o YHWH Elohim de teus pais. (Devarim/Deuteronômio 27:3) Para sacramentar a questão, existe ainda o testemunho de Yahushua (Josué), sucessor de Moshe, que diz com total clareza que tudo o que Moshe deixou foi escrito: E depois leu em alta voz todas as palavras da Torah, a bênção e a maldição, conforme a tudo o que está escrito no livro da lei. Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moshe ordenara, que Yahushua não lesse perante toda a congregação de Yisra'el, e as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles. (Yahushua/Josué 8:34-35) Portanto, podemos concluir com clareza que a Torah Oral é um acréscimo diabólico à Torah e que viola sim as determinações de Devarim (Deuteronômio) 4. Conclusão Como podemos perceber ambas as posições são equivocadas. YHWH deixou para Yisra'el não somente a Torah, como todo um conjunto de Escrituras, das quais a Torah é base de tudo. Além disso, podemos ver que Moshe não deixou qualquer conjunto de tradições orais, como complemento da Torah. Assim sendo, a Torah pura de YHWH não está isolada, pois é fundação para toda a Palavra, mas também não precisa de qualquer acréscimo, pois, como diz o salmista: A Torah de YHWH é perfeita, e refrigera a alma. (Tehilim/Salmos 19:7)

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